Adaptado de William
Hazlitt
Joshua no metrô, sem
plateia.
Aquela poderia ser mais uma manhã
como outra qualquer. Eis que o sujeito desce na estação do metrô de Nova York,
vestindo jeans, camiseta e boné. Encosta-se próximo à entrada. Tira o violino
da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem
na hora do rush matinal. Mesmo assim, durante os 45 minutos em que tocou, foi
praticamente ignorado pelos passantes. Ninguém sabia, mas o músico era Joshua
Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais
consagradas, num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em
mais de 3 milhões de dólares. Alguns dias antes, Bell havia tocado no Symphony
Hall de Boston, onde os melhores lugares custaram à bagatela de mil dólares.
A experiência no metrô, gravada
em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão,
celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do
violino.
A iniciativa, realizada pelo jornal The Washington Post,
era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte. A conclusão é de que
estamos acostumados a dar valor às coisas, quando estão num contexto. Bell, no
metrô, era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de
grife.
Esse é mais um exemplo daquelas
tantas situações que acontecem em nossas vidas, que são únicas, singulares e a
que não damos importância, porque não vêm com a etiqueta de preço. Afinal, o
que tem valor real para nós, independentemente de marcas, preços e grifes? É o
que o mercado diz que podemos ter, sentir, vestir ou ser? Será que os nossos
sentimentos e a nossa apreciação de beleza são manipulados pelo mercado, pela
mídia e pelas instituições que detêm o poder financeiro? Será que estamos
valorizando somente aquilo que está com etiqueta de preço?
Uma empresa de cartões de crédito
vem investindo, há algum tempo, em propaganda onde, depois de mostrar vários
itens, com seus respectivos preços, apresenta uma cena de afeto, de alegria e
informa: Não tem preço. E é isso que precisamos aprender a valorizar. Aquilo
que não tem preço, porque não se compra. Não se compra a amizade, o amor, a
afeição. Não se compra carinho, dedicação, abraços e beijos. Não se compra raio
de sol, nem gotas de chuva. A canção do vento que passa sibilando pelo tronco
oco de uma árvore é grátis.
A criança que corre
espontaneamente ao nosso encontro e se pendura em nosso pescoço, não tem preço.
O colar que ela faz, contornando-nos o pescoço com os braços não está à venda
em nenhuma joalheria… E o calor que transmite dura o quanto durar a nossa
lembrança.
Joshua com a sinfônica
da Boston.
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