domingo, 8 de dezembro de 2019

Cornélio Pires e o número 13



Esta outra ocorreu pelo ano de 1933, já beirando os 49 anos, com a afamada superstição do numero 13. Um grande amigo das noitadas de Cornélio o encontrou sentado em um banco na Praça do Patriarca muito pensativo. Começaram a conversar e em pouco tempo estava formada a tradicional roda em volta dos dois. Alguém fez referências ao acaso de certas pessoas serem perseguidas pelo numero 13. Cornélio com aquele jeitão, achando sempre um “a propósito” para todos os casos, chamou a atenção da roda.

– Pois saibam vocês que tenho grande predileção pelo número 13, e sou por ele fartamente retribuído.

E Cornélio começou sua descritiva:

Cornélio Pires
Vi a luz em Julho
Nasci no dia treze
Século passado
Eu sou paulista
Nasci no Brasil
Sul de São Paulo
Cidade de Tietê
D. Anna Joaquina (minha mãe)
Raimundo Pires (meu pai)
Poeta e caipira
Poeta e “conteur”
Conferencista
Escrevo livros
Sou muito pobre
Sou muito feliz
Eu sou solteiro
Amei treze “emes”
(o M e a 13ª letra do alfabeto)
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras
13 letras

* “emes” treze mulheres

E o escritor regionalista concluiu:

Não cito os nomes das minhas 13 namoradas, porque, vocês compreendem…

E com esta, até logo.

– Para aonde vais?

– Vou tomar Bonde!

– E note uma coisa, que sua pergunta e minha resposta, ambas têm 13 letras!

Até doente Cornélio ainda mostrava sua veia de humorista. Esta aconteceu no hospital que Cornélio estava internado, em São Paulo. Ele recebia visitas de parentes, em seu quarto, quando entrou uma enfermeira com sua medicação diária. Era composta de comprimidos e de uma injeção. Tomou os comprimidos enquanto a enfermeira preparava a seringa. Virou-se ela e perguntou.

– Senhor Cornélio, aonde quer que aplique esta injeção?

Cornélio olhou para os braços, já todos picados, olhou para cima, para os lados e sem cerimônia disse:

– Pode aplicar ali na parede mesmo!

Algum tempo depois, em 17 de Fevereiro de 1958, às 2h30min, falecia Cornélio Pires no Hospital das Clínicas de São Paulo, vítima de câncer na laringe. Seus restos mortais foram trasladados no mesmo dia para sua cidade natal e sepultados no cemitério local. Faleceu solteiro convicto e em plena lucidez, tinha 74 anos incompletos. Foi enterrado de pijamas e descalço, conforme sua vontade.

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