(1882-1957)
Bastos Tigre, 1944,
com a revista “D. Quixote”
Envelhecer...
Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do
passado,
Sonhos de glórias, ilusões de
amores.
Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as
flores;
Mas lavra, ainda, e planta o teu
eirado,
Que outros virão colher quando te
fores.
Não te seja a velhice
enfermidade.
Alimenta no espírito a saúde,
Luta contra as tibiezas da
vontade.
Que a neve caia, o teu ardor não
mude.
Mantém-te jovem, pouco importa a
idade;
Tem cada idade a sua
juventude!...
Envelhecer... (II)
Boa noite, velhice, vens tão
cedo!
Não esperava, agora, a tua vinda.
Eu tão despreocupado estava,
ainda,
Levando a vida como num brinquedo...
Tens tão meigo sorriso e um ar
tão ledo;
Nos teus cabelos como a prata é
linda!
Ao meu teto, velhice, sê
bem-vinda!
Fica à vontade. Não me fazes
medo.
E ela assim me falou, em tom
amigo:
- Estranha me supões, mas,
em verdade,
Há muito tempo que, ao teu lado,
eu sigo.
Mas, da vida na estúrdia
alacridade,
Não me viste viver, seguir
contigo...
Eu sou, amigo, a tua mocidade.
Canção da Saudade
Saudade, palavra doce,
Que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
Espinho cheirando a flor.
Saudade, ventura ausente,
Um bem que longe se vê,
Uma dor que o peito sente
Sem saber como e porquê.
Um desejo de estar perto,
De quem está longe de nós;
Um ai que não sei ao certo
Se é um suspiro ou uma voz.
Um sorriso de tristeza,
Um soluço de alegria,
O suplício da incerteza
Que uma esperança alivia.
Nessas três sílabas há de
Caber toda uma canção:
Bendita a dor da saudade
Que faz bem ao coração.
Um longe olhar que se lança
Numa carta ou numa flor,
Saudade – irmã da esperança,
Saudade – filha do amor.
Uma palavra tão breve,
Mas tão longa de sentir
E há tanta gente que a escreve
Sem, a saber, traduzir.
“Gosto amargo de infelizes”
Foi como a chamou Garrett;
Coração, calado, dizes
Num suspiro o que ela é.
A palavra é bem pequena,
Mas diz tanto de uma vez;
Por ela valeu a pena
Inventar-se o português.
Saudade – um suspiro, uma ânsia,
Uma vontade de ver
A quem nos vê à distância
Com os olhos do bem querer.
A saudade é calculada,
Por algarismos também:
“Distância” multiplicada
Pelo fator “Querer bem”.
A alma gela-se de tédio
Enchem-se os olhos de ardor...
Saudade – dor que é remédio,
Remédio que aumenta a dor.
Que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
Espinho cheirando a flor.
Saudade, ventura ausente,
Um bem que longe se vê,
Uma dor que o peito sente
Sem saber como e porquê.
Um desejo de estar perto,
De quem está longe de nós;
Um ai que não sei ao certo
Se é um suspiro ou uma voz.
Um sorriso de tristeza,
Um soluço de alegria,
O suplício da incerteza
Que uma esperança alivia.
Nessas três sílabas há de
Caber toda uma canção:
Bendita a dor da saudade
Que faz bem ao coração.
Um longe olhar que se lança
Numa carta ou numa flor,
Saudade – irmã da esperança,
Saudade – filha do amor.
Uma palavra tão breve,
Mas tão longa de sentir
E há tanta gente que a escreve
Sem, a saber, traduzir.
“Gosto amargo de infelizes”
Foi como a chamou Garrett;
Coração, calado, dizes
Num suspiro o que ela é.
A palavra é bem pequena,
Mas diz tanto de uma vez;
Por ela valeu a pena
Inventar-se o português.
Saudade – um suspiro, uma ânsia,
Uma vontade de ver
A quem nos vê à distância
Com os olhos do bem querer.
A saudade é calculada,
Por algarismos também:
“Distância” multiplicada
Pelo fator “Querer bem”.
A alma gela-se de tédio
Enchem-se os olhos de ardor...
Saudade – dor que é remédio,
Remédio que aumenta a dor.
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