Às vezes, mãos sujas não salvam ninguém!
Depois quase vinte anos, aquele
lugar aprazível de uma linda cidade do interior foi tomado por um mar de lama.
O lamaçal entrou pela cidade, invadindo a Prefeitura, igreja, Palácio da
Justiça, Câmara Municipal, tornando a vida de todo mundo um inferno.
Os serviços públicos ficaram
paralisados, a lama impedia qualquer coisa que se pudesse fazer pela cidade. A
saúde dos moradores também ficou prejudicada, pois havia falta de remédios, os
médicos e as enfermeiras não podiam sair de casa, a lama estava em todo lugar,
em todos os serviços que se pudessem prestar à população.
O Prefeito, que já estava quase
oito anos no poder daquela cidade, substitui outro prefeito do seu mesmo
partido. As coisas até que iam bem, mas a lama, o excesso de lama, começou a
prejudicar a vida de todos na cidade.
O jornal que circulava na cidade
e uma rádio local faziam campanha sistemática contra a quantidade de lama que
atazanava a vida de todos. E tudo recaía nas costas do prefeito. E dê-lhe lama!
Um dia, os que não estavam
aguentando mais, resolveram fugir da cidade. Cada um se virou por si mesmo. O
prefeito apanhou um barco a remo, o mais moderno do local, e resolveu remar
sozinho para fugir da cidade. Mas a lama impedia que se saísse do mesmo lugar:
uma remada, uma parada para descanso.
Quando percebeu que começava a
escurecer, ele empacou numa lama mais densa, e, então, resolveu pedir por
socorro. Moradores de outra cidade, rival da que estava no mar de lama,
atenderam ao pedido de socorro e saíram em direção ao homem desesperado no meio
da tarde que escurecia rapidamente.
Nisso ele viu, ao longe, alguns
barcos que se aproximavam. Na frente, vinha um mais voluntarioso, com remadas
vigorosas, ele era tipo que gritava alto, parecia ter um porte de um militar ou
ex-militar pela maneira agressiva como remava e xingava àqueles que estavam ao
seu redor. Ele queria ser o primeiro, o único a ser o salvador da pátria.
Quando já estava próximo da
vítima, percebeu que esta, pela longa e cansativa remada, estava desgastada
pelo esforço de sair daquele espesso mar de lama.
O socorrista pensou o seguinte:
saio do meu barco e ocupo o lugar no barco do homem que está fragilizado, e ele
segue no meu.
Ao emparelharem os barcos, o antigo
prefeito estendeu a mão para ser içado ao barco salvador, mas a cada tentativa
era um fracasso, pois as mãos não se ajustavam numa pegada forte e segura.
Tentaram muitas vezes, sempre com
resultados infrutíferos.
Até que o prefeito percebeu estar
muito sujo de lama viscosa e escorregadia, o que impedia uma pegada forte de
sua mão com a pretensa mão salvadora.
Mas o que mais o deixou frustrado,
foi perceber que as mãos salvadoras também estavam sujas, com o mesmo tipo de
lama, há muito tempo, o que impedia o dono dessas mãos ser o grande herói do
dia. Mãos enlameadas não conseguem segurar e salvar coisa alguma!
(NSM)
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