segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Boletim

Carlos Queiroz Telles


Chega uma hora
em que não dá mais
pra gente fugir do assunto.
Meio mundo da família,
pai e mãe, irmão e tia,
com olhares de cobrança,
pedem o troco da esperança
que jogaram sobre nós.

E então começa a guerra.
É a equação conjugada
em português matemático,
são matérias inexatas
e ciências desumanas.

É a cara da professora
que brigou com o namorado.
São as noites mal dormidas
de estudo ou de medo.
É o tormento renovado
do semestre que se acaba
ou do ano que termina.

Tempo de unha roída
de culpa e de sofrimento.
Coração sempre apertado,
dias com dor de barriga,
noites com falta de ar.

A vida fica um sufoco
até a hora temida
em que a angústia vira nota.
Amanhã... hoje... agora!
O olhar sabe de cor
onde o nome está na lista.
E então... lá vamos nós
com a cara e a covardia.

Um, dois, três... não acredito!
Aquela nota é um oito!
Não é possível, meu Deus!
É possível! É possível!
Aquele oito sou eu.


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