sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A Lógica gaudéria

 

Desenho de Marcelo Lopes de Lopes  

O peão todo pilchado, entre num bar chique, destes com homem de brinco e mulher de cabeça raspada, vai lá para um cantinho do balcão, pede uma cachaça e fica só bombeando o movimento e bebericando sua fortinha. 

Daqui a pouco senta ao lado dele uma guria com um jeito meio esquisito, pede uma vodca e puxa assunto com o índio véio. 

− Tu és peão de estância mesmo? 

− Eu sou. Nasci numa estância. Me criei lá. Laço, pealo e gineteio. Capo touro e cavalo. Marco o gado. Mato e carneio. Faço de tudo numa estância. 

Aí o gaúcho estufa o peito e começa a cantada. 

− E tu, guriazinha bonita? Que que tu fazes na vida? 

− Qual é, meu? Eu sou lésbica. 

− Lésbica?! Que que é isso? 

− Eu gosto de mulher. Levanto pensando em mulher. Trabalho pensando em mulher. Almoço pensando em mulher. Deito pensando em mulher. Durmo sonhando com mulher. É isso. Tchau, fui! 

A mulher levanta e vai embora meio braba. 

O peão fica ali. Termina a cachaça e pede outra. Fica matutando “entertido” com os pensamentos. Nisso senta outra gatinha ao lado dele. Ele fica meio desconfiado, mas fica na dele. Aí a guria pergunta: 

− Tu és peão de estância, dos legítimos? 

Ele olha bem pra ela, faz uma pausa conferindo o raciocínio, e tasca: 

− Pois olha, guria, até a bem pouquinho eu era. Só que agora descobri que sou lésbica! 

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