Jéferson Tenório
Você está caminhando pela rua e de repente encontra alguém. Alguém que você não vê desde o início da pandemia. Primeiro vocês se olham e demoram um pouquinho para se reconhecerem. Logo em seguida, um de vocês solta um “nossa, não tinha te reconhecido com essa máscara”. Depois, um de vocês estende a mão enquanto o outro faz menção de te dar um abraço. Vocês ficam sem jeito. Então, você abre os braços enquanto o outro fecha a mão para cumprimentá-lo com um soquinho ou com o cotovelo. Um desencontro de gestos. Um “sem jeito” social, pois ninguém sabe ao certo como fazer.
Mais de um ano evitando os apertos de mãos e os abraços. Estávamos sedentos por esse momento. Sabemos que a pandemia ainda não acabou. Mas com o avanço da vacinação e os protocolos de cuidados voltamos a algumas atividades presenciais. Ainda teremos muitos gestos desencontrados. Estamos reaprendendo a conviver. Ainda há uma ferida para cicatrizar.
(...)
Aliás, nos tornamos especialistas em nos reconhecer pelo olhar. Mas quando encontramos alguém, precisamos do cumprimento. Este gesto é mais forte do que nós. O gesto é o resultado de uma força interior que o nosso corpo executa. Quando não há esse cumprimento inicial, ficamos sem jeito. Também não queremos parecer frios ou indiferentes.
(...) Ainda não é possível tirarmos as máscaras, então aprendemos a sorrir pelos olhos. O que já é muito perto do que já passamos.
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*Parte da crônica “O gesto reencontrado”, de Jéferson Tenório, em Zero Hora, novembro de 2021.
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