Cordel de José Walter Pires*
(01)
Até
quando já nem sei
Desta
língua vou falar
Nos
seus diversos falares
Do
erudito ao popular,
Brincando
com a gramática
Que não paro de estudar.
(02)
As
normas gramaticais
São
verdadeiros dilemas
E
muitas delas já foram
Os
motivos dos meus temas
Em
cordéis educativos,
Amenizando problemas.
(03)
O cordel tem por missão
Informar
e divertir,
Semear
educação
Para
poder garantir
Um
presente glorioso
Que sedimente o porvir.
(04)
Ver
o cordel nas Escolas
É
a voz que não se cala,
Um
vetor da aprendizagem,
Sendo
usado em cada sala,
Quebrando
a monotonia
Que toma conta da aula.
(05)
O
tema que abordo agora
Merece
muita atenção,
Pois
só se vê claramente
No
contexto da oração,
Não
é somente uma pausa
Ou simples entonação.
(06)
Será
a vírgula a vilã
Neste
novo itinerário
Com
os assombros que causa
Muitas
vezes, sendo hilário,
Modificando
o contexto,
Criando novo cenário.
(07)
Isso
não será compêndio,
Mas
somente uma cartilha
Onde
aprendi soletrando,
Persistindo
nessa trilha
Por
um longo itinerário
Cada légua, cada milha.
(08)
A
vírgula, no seu conceito,
Vem
de uma função sintática
Dentro
de cada oração,
Conforme
ensina a Gramática
E
só será aprendida
Quando aplicada na prática.
(09)
É
ordem de qualquer frase:
Sujeito,
verbo, objeto
E
também os adjuntos,
Dando
sentido correto
Ao
que se chama oração,
Ordem direta, por certo!
(10)
Sujeito
do predicado
Não
se separa jamais
Nem
objeto de verbo;
Adjuntos
adnominais
Do
nome sempre vêm juntos,
Essas regras são gerais.
(11)
São
quatro casas na frase:
O
sujeito é a primeira,
Em
segundo vem o verbo,
Complementos
a terceira,
As
circunstâncias a quarta
Numa oração rotineira.
(12)
Entre
as casas um, dois, três,
A
vírgula não é usada
E
também entre um e dois,
Entre
dois e três sem nada;
Porém,
entre três e quatro,
Pode ou não ser colocada.
(13)
Nomes
de localidades
Com
vírgulas são separados
No
início de documentos
Ou
final, quando datados.
Dessa
forma sendo feitos,
Ficarão bem registrados.
(14)
Se
a oração adverbial
Antepõem-se
à principal,
Ainda
que se desculpe,
(Por
ter me causado um mal)
Eu
não vou lhe perdoar!
A vírgula é sempre usual.
(15)
Orações
coordenadas,
Entre
si independentes,
Não
pode faltar a vírgula,
Apesar
de erros frequentes.
Dessa
forma, é necessário
Vírgula e conjunção presentes.
(16)
A
vírgula antes do “e”
Merece
muita atenção:
Nas
três estrofes seguintes
Ponho
fim à discussão.
Fica
a sintaxe correta,
Mais enxuta a oração.
(17)
O
professor deu a nota,
E a
Secretária anotou
No
boletim semestral
Que
o Colégio adotou.
São,
portanto, dois sujeitos
Que a conjunção separou.
(18)
E
varre, e lava, e dá brilho.
Com
a vírgula e conjunção.
Dessa
forma, com mais ênfase,
Para
cada citação,
Embelezando
o contexto
Que traduz a oração.
(19)
Sofre
mudança semântica
A
conjunção “e” aditiva,
Antes
da vírgula empregada,
Passando
à adversativa,
Portanto
uma consequência
Que a conjunção motiva.
(20)
Rita
disse que viria,
E (como
sempre) não veio.
A
vírgula fica correta.
Deve
usá-la como esteio,
Justificando
o sentido
Da oposição, sem receio.
(21)
Uso
da Vírgula é correto
Com
as enumerações
Ou
com termos repetidos:
Os
fãs, cheios de emoções,
Cantam,
vibram, choram, sofrem,
Extravasando paixões.
(22)
Com
mas, porém, todavia,
Contudo,
muito cuidado
Com
o sinalzinho gráfico
Que
de vírgula é batizado,
Pois
pode bagunçar tudo
Quando o seu uso for errado.
(23)
Com
os advérbios em “mente”,
A
vírgula é facultativa,
Mesmo
no início ou no meio.
Se
realçá-los precisa,
Use
a vírgula sem vergonha
Pela
intenção expressiva.
(24)
Com
“ainda” e “também”
A
vírgula exige cuidado
A
depender do sentido
Que
na frase seja dado:
Pois
erros, também, cometo.
Vírgula
ainda é pecado.
(25)
Depois
de “mas” não se usa,
Conforme
é regra geral.
No
sentido de porém,
É
certo usar o sinal;
Com contudo ou todavia,
Entre
vírgulas é normal.
(26)
Também
entre vírgula vão
“Isto
é”, “melhor dizendo”,
Expressões
explicativas,
Como
agora estou fazendo
No
“ócio criativo”, ou seja,
Lendo,
estudando, aprendendo.
(27)
O
mesmo fato acontece
Quando
se trata do aposto.
Com
vírgula fica isolado
Para
enaltecer o posto
Assim
como o vocativo:
Ó
filho, quanto desgosto!
(28)
Locuções
adverbiais,
Conjunções
intercaladas:
“Naquela
tarde”, “no entanto…”
Em
orações, deslocadas,
Invertendo
a ordem direta,
Com vírgulas são destacadas.
(29)
Uma
vírgula também pode
Uma
palavra omitir:
Gosto
de rua, ela não!
Um
pretexto pra fugir
Quando
lhe faço um convite
Para
comigo sair.
(30)
A
vírgula deve vir antes
Se
o “pois” for explicativo;
Porém,
antes e depois
Quando
o “pois” for conclusivo,
Equivalendo
a “portanto”,
Sendo,
pois, de uso preciso.
(31)
Você
trabalha ou estuda?
Conjunção
alternativa
Uma
vírgula antes do “ou”
Colocá-la
não precisa
Para
não quebrar a guia
Da
função conectiva.
(32)
Agora
chega o talvez
Com
a sua explicação:
Não
me separe com vírgula,
Pois
é íntima a ligação
Com
o meu subjuntivo,
Sendo verbo da oração.
(33)
Não
é permitida a vírgula
Numa
oração relativa
Pelo
“que” iniciada;
A
oração explicativa
Com
duas vírgulas grafadas;
Nenhuma
na restritiva.
(34)
A
vírgula ainda desperta
Muita
curiosidade
Em
várias situações
Com
a criatividade
Nas
montagens de expressões
Fruto
da ludicidade.
(35)
‒
Peço, espere mais um pouco!
Diz
a amante ao seu amado.
‒
Isso só, minha doce amada?
Sou
Quixote apaixonado!
‒
Não, desejo muito mais
Para
viver ao seu lado!
(36)
Vejam:
“Matar não é crime!”
Um
dia, o rei decretou.
Entretanto,
o condenado,
Com
uma vírgula, mudou
O
sentido da sentença
E
da morte se livrou.
(37)
Acredite
quem quiser!
Em
gramática não pequei.
O
livro de Pedro Luft,
Foi
nele que pesquisei,
Um
linguista brasileiro
Que como guru adotei.
(38)
Chego
ao fim desta aventura
Desdenhando
da gramática.
Só
não sei se consegui
Demonstrar
a minha prática
Com
os exemplos que dei
De maneira mais enfática.
*Utilizando-se da obra “A Vírgula”, de Celso Pedro Luft, linguísta gaúcho, o poeta cordelista José Walter Pires retirou os ensinamentos para a composição de trinta estrofes, em sextilhas, com versos de sete sílabas poéticas, sob primoroso rigor técnico da literatura de cordel.
P.S.
Esse cordel sobre a vírgula está no livro “À crase os meus respeitos”, de Plínio
Nunes, lançado no 67ª Feira do Livro de Porto Alegre, RS, com os devidos
créditos.
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