Por Pedro Bial*
Hoje, a gente olha pro céu e clama, “pra que tanta pressa?”; e reclama, cambaleante, sem o chão de tua voz. “Marília, por que tanta pressa? Por que tão rápido?”.
Você ainda tinha tanta história pra viver e ouvir e depois em versos nos contar, tanto canto a doar. Por que tão rápido, pra que a pressa?
Que versos você escreveria pra explicar isso? Como termina essa canção, interrompida pelo estrondo de silêncio? Que música é essa em descompasso e desafino, onde dó é só padecimento?
Como toda história, uma canção tem começo, meio e fim. E alguém já disse que toda canção começa buscando um meio de chegar ao fim. A canção de sua vida parece foi interrompida antes de encontrar o meio. É tão antinatural, chegar ao fim, sem nem acabar de começar. Arrancaram a flor, ficou seu sonoro perfume a consolar um jardim entristecido.
Pois, agora, você que falava das coisas fugidias da vida, essas coisas de amores e dores, encontros e adeuses, você que libertava as palavras, deixando que voassem passarinhas pra nos consolar e pra que a gente as acolhesse no ninho de nossas solidões; agora, Marília, seus versos se aquietaram, imóveis, como mão de mãe, suave, sobre cabeça de menino, pousados sobre nossa memória.
Hoje, a gente lhe pergunta: “Nunca mais, Marília?”.
E, com um sorriso mais manso do que triste, você nos responde que não, não é “nunca mais”. Dedilha o violão, compondo uma canção pros anjos, e diz, “É para sempre!”.
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*Crônica que o jornalista Pedro Bial fez para o Fantástico, da Rede Globo, sobre a Rainha da Sofrência, Marília Mendonça, incorporando o sentimento de incompreensão que tomou conta do Brasil com a notícia da morte da cantora.
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