terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Bom não é malvado

 Rolando Boldrin

O viajante chegou numa cidade e perguntou o que tinha pra se fazer ali, pra móde distrair um pouquinho. Logo lhe disseram que havia lá no arrabalde da cidade uma rinha de galo. Lugar onde colocam os coitadinhos para brigar.

Era a vez de um galo branco muito bonito, de crista vermelha, e de um galo preto, também muito bonito. Galos com esporas afiadas com lima. Coisa de gente ruim mesmo, pois onde já se viu afiar as esporas pra um deles sair prontinho pra ir pra panela do bar mais próximo?

Mas vamos ao causo.

Viajante (para um apostador): 

– Moço? Eu também queria fazer uma fezinha, só que não conheço a qualidade dos galos que vão brigar. Qual é o bom, hem?

Apostador (respondendo sem olhar para o viajante): 

– O bom é o galo branco.

O viajante, sem pestanejar, lascou uns 500 mil réis no galo branco.

Começou a briga e foi aquela loucura. Esporada pra cá, pra lá, que era um deus-nos-acuda.

Voava sangue. E o pior é que voava sangue do galo branco, que não deu pro cheiro. O galo preto tinha levado a melhor. E quem tinha mesmo levado a pior era o nosso viajante, que perdeu aí uns bons trocados.

Viajante (para o apostador): 

– Ô moço, o senhor não disse que o bom era o galo branco? Eu acabo de perder 500 por sua causa.

Apostador (na maior cara-de-pau de interiorano): 

– O bom era o branco, mesmo. Porque o preto... o preto é o marrrvado, sô! 

(E ainda ri.)

(Brasil ‒ Almanaque de Cultura Popular – março – 2006)

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