Bruno Seabra*
‒ Moreninha,
dás-me um beijo.
‒ E
o que me dá, meu senhor?
‒ Este
cravo...
‒ Ora,
esse cravo!
De
que me serve uma flor?
Há
tantas flores nos campos!
Hei
de agora, meu senhor,
Dar-lhe
um beijo por um cravo?
É barato; guarde a flor.
‒ Dá-me
o beijo, moreninha,
Dou-te
um corte de cambraia.
‒ Por
um beijo tanto pano!
Compro
de graça uma saia!
Olhe
que perdes na troca,
Como
eu perdera com a flor;
Tanto
pano por um beijo...
Sai-lhe caro, meu senhor.
‒ Anda
cá... ouve um segredo...
‒ Ai,
pois quer fiar-se em mim?
Deus
o livre; eu falo muito,
Toda mulher é assim...
E
um segredo... ora um segredo...
Pelos
modos que lhe vejo
Queres
o meu beijo de graça,
Um segredo por um beijo?!
‒ Quero
dizer-te aos ouvidos
Que
tu és uma rainha...
‒ Achas,
pois? e o que tem isso?
Queres ser rei, por vida minha?
‒ Quem
dera que tu quisesses...
‒ Não
duvides, que o farei;
Meu
senhor, case com ela,
A rainha o fará rei...
‒ Casar-me?...
ainda sou tão moço...
‒ Como
é criança esta ovelha!
Pois
eu pra beijar crianças,
Adeusinho, já sou velha.
(Do livro “Antologia de humorismo e sátira”,
de R. Magalhães Junior)
Nasceu Bruno Henriques de Almeida Seabra a bordo de um barco, em águas paraenses (Tatuoca), a 6 de outubro de 1837.
Estudou as primeiras letras e preparatórios em Belém, indo depois matricular-se na escola militar da capital da República.
Foi um trabalhador infatigável, escrevendo, quase que diariamente, folhetins, crônicas, poesias, etc., em vários jornais fluminenses.
Como funcionário público exerceu, com zelo e dedicação, cargos no Maranhão, na Bahia e no Rio de Janeiro, vindo finalmente a falecer em Salvador (Bahia), no ano de 1876.
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