Deborah E. Hill
Quero sair para dançar, usar um vestido que rodopie e flutue em volta de mim e rir.
Quero sentir a luz trêmula da seda enquanto ela escorrega pelos meus braços e pelo meu corpo, a alegria de tocar com os dedos sua maciez.
Quero dormir na minha própria cama e regalar-me na frescura dos lençóis limpos e descansar minha cabeça em meu travesseiro macio. E ir dormir quando quiser, com todas as luzes apagadas e acordar quando estiver pronta.
Quero me esticar em meu sofá debaixo da minha manta de lã azul e ouvir minha música favorita escoar dos auto-falantes para dentro do meu ser, regando a paisagem ressequida da minha alma.
Quero sentar-me na varanda, bebericar café quente de minha caneca de faiança, ler o jornal e ouvir o cachorro latir para as folhas que caem ou para esquilos invasores.
Quero atender o telefone e ligar para os meus amigos e família e conversar até termos colocado em dia todas as palavras que guardamos um para o outro, e rir.
Quero ouvir o trem apitar através de Loveland, o cascalho sendo esmagado na porta da garagem e portas de carros batendo quando os amigos vêm nos visitar. E o tilintar e tinir dos talheres contra a louça, o chiado e o gorgolejo da máquina de fazer café.
Quero sentir meus pés descalços na brancura fria do chão da minha cozinha e na maciez azul do tapete do meu quarto.
Quero ver as cores, todas elas, cada cor jamais fiada na existência. E branco, branco de verdade, puro e imaculado. E acres de árvores verdes e quilômetros de estradas com fitas amarelas e centenas de metros de luzes de Natal. E a Lua.
Quero sentir o cheiro de bacon fritando, um filé grelhando. Jantar de Ação de Graças e a plantação de tomates de meu pai. E roupa recém-lavada, asfalto novo em um estacionamento. E o oceano.
Porém, mais do que tudo isso, quero ficar de pé na porta do quarto do meu filho e vê-lo dormindo. Ouvi-lo acordar pela manhã e vê-lo voltar para casa à noite. Tocar seu rosto e passar meus dedos por seus cabelos. Pegar uma carona em seu caminhão e comer seus sanduíches de queijo quente.
E vê-lo crescer, rir, brincar, comer, dirigir e viver. Acima de tudo, de tudo, viver. E passar meus braços à sua volta e segura-lo até ele rir e dizer:
− Já chega, mamãe!
E então ser livre para fazer tudo de novo.
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Nota do editor: O texto a seguir nos foi enviado por uma prisioneira. Não sabemos qual o crime que ela cometeu.
(Do livro “Histórias para Aquecer o Coração”)
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