domingo, 7 de maio de 2023

A Mensagem

 Luís Fernando Veríssimo

“Não esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns,

não o sabendo, hospedaram anjos.” 

(Epístola aos Hebreus, 13:2) 

Um deles já esteve com você, e você não o reconheceu. A função dele era aparecer e lhe dar a mensagem, a sua única obrigação era recebê-lo, mas você não soube que era ele. Ele podia, claro, ter aparecido numa nuvem pintada, com uma túnica de luzes, e cantando a mensagem no seu ouvido, mas onde estaria o ganho para seu coração? Sua única obrigação era reconhecê-lo, mas você se afastou, achou que era um chato, ou um louco, falhou, azar. 

Pode ter sido há anos. Aquele que caminhou ao seu lado brevemente e disse uma coisa estranha e você apressou o passo, lembra? Aquele (ou aquela, eles vêm em várias formas) que sentou ao seu lado e falou no tempo, e era um preâmbulo para a revelação, mas você fechou a cara. Ele podia ter batido na sua porta e você foi logo dando uma esmola, ou dizendo que hoje não tem nada, ou ameaçando chamar a polícia. Antes era mais fácil, agora é tarde. Hoje ele bate na porta e você espia e não abre a porta, tá doido! Se ele se aproximar de você na rua você correrá apavorado ou anunciará que está armado e que é melhor ele se afastar. Se ele sentar ao seu lado você fugirá do contágio, se ele segurar o seu braço você gritará. Se ele telefonar, sua secretária eletrônica dirá para ele deixar a mensagem depois do bip ele não dirá nada: a mensagem é para você, não para ela. E se ele conseguir alcançá-lo sem que você lhe dê um pontapé, e cumprir sua função, e der a mensagem - você não a compreenderá. Pedirá para ele falar mais alto, há muito barulho. O quê? Em que sentido? É uma metáfora? É um código? Interpreta, traduz, decifra o quê? Agora é tarde. Antes ele olharia você nos olhos e falaria claramente e a sua palavra seria uma estrada para seu coração. E, dada a mensagem, ele desapareceria, e o mundo seria uma estrada para seu coração. Hoje você diria olha, precisamos conversar com mais calma um dia, me liga! Azar. 

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