domingo, 21 de maio de 2023

Uma carta sincera

 

Niterói, 25 de março de 1998. 

Prezado amigo Paulo: 

Tive que reunir forças para lhe escrever. É muito difícil falar certas coisas pessoalmente. Somos amigos há cerca de 12 anos, certo? Por isso mesmo se torna tão complicado lhe dizer o que estou pronto a dizer. O respeito e a admiração mútuos que sempre nortearam nossa amizade precisam ser preservados. Devo agir corretamente e pronto. 

Pensei muito e acho que nossa amizade merece que eu faça isso. O problema é Cecília, sua mulher. Quando você passou a beber demais, era eu quem o levava pra casa, de madrugada, lembra? Pois é. E sempre encontrava sua mulher acordada, esperando você. E sempre vestindo camisolas. Eram camisolas lindas, algumas transparentes ou quase. E você sabe que tem uma mulher linda, de formas perfeitas, cabelos sedosos, negros. 

No começo, ela procurava se cobrir, mas depois notei que ela gostava de ser apreciada por mim. Naquele dia em que choveu muito, eu o levei pra casa e junto com Cecília, tirei suas roupas molhadas e o coloquei pra dormir. Fechamos a porta do seu quarto e quando me dispunha a partir, ela sugeriu que eu fizesse o mesmo, tirasse a roupa molhada. Meio sem jeito tirei a camisa e fiquei olhando para ela. Sabe o que ela me disse? "tira tudo". O sangue ferveu quando bebi um conhaque, de cuecas, com ela. Nos amamos no sofá da sala. 

Paulo, desde aquele dia, eu tenho um caso com Cecília. Não pude evitar. Não consigo resistir àquele sorriso e àquelas camisolas. Agora mesmo, pensando nisso, sinto o desejo e a excitação renascerem dentro de mim. Mas preciso vencer isso. Essa é a razão da presente missiva. Contar tudo a você, esquecer Cecília... Cecília, com o sorriso e os cabelos que me levam ao êxtase. Cecília, que na cama me faz sentir como o dono do mundo... as coxas de Cecília... 

É, parece que esta carta vai ter o mesmo destino das outras. E eu vou continuar enchendo você de cerveja. Paulo, me perdoe. Vou rasgar esta carta e continuar transando com sua mulher. Ela é demais. 

(Som de papel de carta sendo amassado) 

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Texto de Clarival Vilaça

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