TEIAS DE ARANHA
Informação do professor Raul Pederneiras
Fiscal de uma casa de penhores, Emílio de Menezes ia uma vez por mês ao Tesouro receber os magros vencimentos do cargo. E ao entrar ali, encontrava sempre um indivíduo obsequioso, que chorava as suas misérias, as suas moléstias, a sua fome, até que lhe arrancava uma cédula de cinco mil réis. Certa vez, o “mordedor” foi mais longe nas suas lamentações.
- O senhor não imagina, − gemia, − o que eu tenho passado. Basta dizer-lhe que há quinze dias não como!
- O quê, homem? − espantou-se o poeta.
E para os funcionários:
- Este camarada, com certeza, já está com teias de aranha no céu da boca!...
FRANQUEZA DE MARIDO
Osório Duque-Estrada - Discurso da Academia Brasileira de Letras.
Passava Sílvio Romero, uma tarde, pela Avenida, quando viu grande aglomeração à porta de um cinema. Perguntou O que era, e um cavalheiro explicou-lhe, indicando um violinista:
- Este homem comprometeu-se a tomar parte no nosso concerto de benefício, e recusa-se agora, por imposição da mulher, de quem tem medo!
Silvio varou a multidão, indo tomar o “medroso” pelo braço.
- Coragem, amigo! − Não se importe! − disse-lhe.
E
- Aqui está um velho que já casou três vezes, e que só tem feito no mundo o que as mulheres têm querido!
O CLARIM
Afrânio Peixoto -
Conferência ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
a 2 de julho de 1923
Reunidas em Pirajá, as tropas brasileiras desenvolviam daí, em 1822, o cerco do general Madeira, encurralado na Bahia com o restante das forças portuguesas. A 8 de dezembro Madeira lança um contingente de 2.000 homens contra a ala direita dos sitiantes, levando-os de roldão. Chegam reforços de parte a parte, e os lusitanos vão triunfar, quando o coronel brasileiro Barros Falcão prevendo a derrota e querendo salvar o resto dos seus homens, ordena ao clarim Luiz Lopes, português de nascimento, mas que abraçara, aí, a causa da independência:
- Toca “retirar!”
O soldado leva o clarim à boca e o toque que se ouve é:
- “Avançar, Cavalaria!”
E logo outro:
- “Degolar!”
Apavorados com o que ouviam, os portugueses, quase vitoriosos, recuam, os brasileiros ganham ânimo e avançam de novo.
Estava ganha a batalha.
DESARMANDO O INIMIGO
Múcio Teixeira - “Os Gaúchos”, vol. I, pág. 362.
Era Salvador de Mendonça diretor do jornal A República, no Rio de Janeiro, quando o governo imperial, não obstante as suas ideias democráticas, o nomeou cônsul do Brasil nos Estados-Unidos. Aceita a nomeação, foi o jornalista, nas vésperas da viagem, despedir-se do Imperador, e pedir as suas ordens para aquele país.
- Não tenho ordens a dar-lhe, − respondeu-lhe, benévolo, o soberano.
E sorrindo:
- Apenas faço votos para que o senhor preste tão bons serviços ao Império, nessa República, quantos prestou à sua República no meu Império.
PRUDÊNCIA DE POLÍTICO
J.M.de Macedo - “Ano Biográfico”, vol. I, pág. 11.
Liberal ardoroso, Manuel Antônio Galvão batia-se valorosamente na Câmara quando, no maior da agitação, em 1826, arrefeceu o entusiasmo, recolhendo-se a um silêncio prudente. Anos depois, quando lhe perguntavam a razão dessa mudança, ele explicava:
- Tirei, então, a minha acha da fogueira para me não me arrepender na ocasião do incêndio!
SANGUE E FLORES
Tobias Monteiro - “Pesquisas e Depoimentos”, pág. 34
Votava-se no Senado a Lei do Ventre Livre, a 28 de setembro de 1878. Nas tribunas do Senado, repletas, apareciam as figuras mais eminentes do mundo diplomático, entre essas o ministro dos Estados Unidos. A discussão do projeto foi brilhante e vigorosa, sob a presidência de Abaeté. E quando, pela votação, se verificou a vitória de Rio-Branco, o povo que enchia as galerias irrompeu em manifestações ao grande estadista, lançando-lhe sobre a cabeça braçadas e braçadas de flores. Terminada a sessão, O ministro dos Estados Unidos desceu ao recinto para felicitar o presidente do Conselho e os senadores que haviam votado o projeto. E colhendo, com as próprias mãos, algumas flores, das que o povo atirara a Rio-Branco, declarou:
- Vou mandar estas flores ao meu país, para mostrar como aqui se fez deste modo, uma lei que lá custou tanto sangue!
O HOMEM E A NATUREZA
Alfredo Pujol - Machado de Assis, pág. 60.
Ao iniciar Machado de Assis a publicação, em folhetins diários, do seu romance “A mão e a luva”, Francisco Ramos Paz, um dos seus poucos amigos e seu confidente literário, lembrou-lhe a conveniência de descrever, em um dos capítulos da obra, o soberbo parque do Conde de São Mamede, no Cosme Velho.
- A natureza inspirará uma bela página ao teu romance... − disse-lhe.
Machado recusou, porém, de pronto.
- A natureza não me interessa...
E definindo-se:
- O que me interessa é o homem!
“OH, LINDA!
Frei Vicente do Salvador - “História do Brasil”, pág. 107.
Andando com outros por entre o mato, em busca de
um lugar em que o seu amo fundasse uma povoação, um galego, criado de Duarte
Pereira, foi ter a um monte à beira-mar, de onde se divisava um soberbo
panorama. E tão encantado ficou
- Oh, linda!
É essa a origem, vulgarmente admitida, do nome que ainda hoje tem a antiga capital pernambucana.
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