Chico Buarque
A música tem um tom metafórico muito utilizado nos anos 70, época do regime militar brasileiro. O próprio Chico diria, no documentário “Vai passar”, que o pronome “ele”, do texto de Maninha, referia-se à situação da ditadura (ou ao ditador da época). Diz o compositor: “é uma canção zangada disfarçada de delicadeza, falando de uma infância imaginária”.
Se lembra da fogueira?
Se lembra dos balões?
Se lembra dos luares dos
sertões?
A roupa no varal, feriado
nacional
E as estrelas salpicadas nas
canções.
Se lembra quando toda modinha
Falava de amor?
Pois nunca mais cantei, ó
maninha,
Depois que “ele”* chegou.
Se lembra da jaqueira?
A fruta no capim,
O sonho que você contou pra
mim.
Os passos no porão,
Lembra da assombração?
E das almas com perfume de
jasmim.
Se lembra do jardim?
Ó maninha, coberto de flor,
Pois hoje só dá erva daninha
No chão que “ele” pisou.
Se lembra do futuro
Que a gente combinou?
Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar,
que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga
anunciou.
Mas não me deixe assim,
Tão sozinha ,
a me torturar
Que um dia “ele” vai embora,
Maninha, pra nunca mais voltar.
**********
* “Ele” foi colocado entre
aspas para dar ênfase ao pronome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário