segunda-feira, 1 de maio de 2023

O Prêmio Camões a Chico Buarque

 

Em 2019, Chico Buarque foi merecedor à indicação do Prêmio Camões, a mais importante premiação na área da Literatura, a qual é conferida pelo Governo de Portugal em parceria com o Governo do Brasil. 

Como representante maior de pais, naquela época, cabia ao presidente Jair Bolsonaro a assinatura do Diploma, mas, lamentável ou felizmente, segundo o Chico, ele se recusou a assinar referido Diploma. 

Transcorridos quatro anos, hoje, 24 de abril de 2023, Chico Buarque o recebeu, em Lisboa, Portugal, das mãos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, o Prêmio Camões. 

Ao receber o prêmio, Chico Buarque fez um discurso de quase dez minutos. Com intensa emoção e retórica, falou do forte legado herdado de seu pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, e, seguindo uma linha de raciocínio sobre sua genealogia, disse: “O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô, baiano (risos da plateia) e tenho antepassados negros e indígenas, cujos personagens alguns antepassados brancos tentaram suprimir da família. Corre nas minhas veias o sangue dos açoitados e dos açoitadores”, etc. e assim continuou seu discurso. 

Nos últimos minutos disse: 

“Valeu muito a pena esperar por quatro anos esta cerimônia. Lá se foram quatro anos que este meu prêmio foi anunciado e eu me perguntava se ele havia me esquecido ou se os prêmios são também perecíveis, se tem prazo de validade. Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam a impressão que um tempo bem mais longo havia transcorrido. 

No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Mas, graças ao bom povo brasileiro, aquele governo foi derrotado nas urnas, mas, nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste... 

Continuando sua fala disse: 

“Hoje, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o funesto ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o Diploma do Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para que, quatro anos depois, o Presidente e Estadista Lula colocasse sua assinatura e me entregasse o Diploma. 

Finalmente, senhoras e senhores, recebo este prêmio, menos como uma honra pessoal, e mais, como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros judiados, ofendidos e desrespeitados nestes últimos anos de estupidez e obscurantismo. 

Muito obrigado!”

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