quarta-feira, 24 de maio de 2023

Burrice

 

Caminhavam dois burros, um com carga de açúcar, outro com carga de esponjas. 

Dizia o primeiro: 

− Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa. 

O outro redarguiu: 

− Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui. 

− Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar outro. 

− Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem. 

− Nem sempre é assim, nem sempre é assim… continuou a filosofar o primeiro. 

Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera. 

− E agora? 

− Agora é passar a vau. 

O burro do açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga se ia dissolvendo ao contato da água, conseguiu sem dificuldade pôr pé na margem oposta. 

O burro da esponja, fiel às suas ideias, pensou consigo: 

− Se ele passou, passarei também − e lançou-se ao rio. 

Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo. 

− Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar − comentou o outro. 



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