domingo, 28 de maio de 2023

O vilão ambiental do momento

 Daniel Scola

De tempos em tempos, a humanidade elege alguns vilões. Um dos eleitos na atualidade é o plástico. É sempre bom lembrar que o plástico não tem braços nem pernas. Ele não vai sozinho até a praia ou até o fundo do mar e se deposita ali. Tem decisiva atuação humana por trás. Ou seja, o vilão é a pessoa que faz descarte de forma incorreta. 

De fato, o plástico demora muito mais tempo para degradar na natureza, infestou as praias e sua quantidade no mar é tão grande que, segundo pesquisadores, está matando peixes e tartarugas. O plástico é mais pesado e afunda nas profundezas marinhas com mais velocidade do que vários outros materiais. 

A temperatura do mundo sobe porque o homem provocou um nível enorme de poluição. Uma das consequências é sentida nos mares cada vez mais revoltos e elevados. Que mundo vamos deixar para os nossos descendentes? 

Outro exemplo da maneira enviesada de tratar o plástico. Numa loja de vestuário esportivo, em Porto Alegre, a etiqueta na roupa informa que a empresa não se vale mais de plástico (poliamida) para a confecção. Nobre, se não fosse hipocrisia, pois a embalagem da peça é de... plástico. Não me refiro à sacola, que também é de plástico, mas à embalagem onde estava a roupa. O consumidor precisa insistir para que o vendedor tire as peças de vestuário do plástico para levá-las para casa. 

Os canudos, provavelmente o artigo com menor quantidade de plástico entre todos, foram eliminados da nossa rotina em bares, lanchonetes e restaurantes como se fosse vergonhoso usá-los. Entraram em cena os canudos de papel (que não podem ser reutilizados) e os que são feitos de metal. Mas não será por isso que os mares ficarão limpos de um momento para outro. 

Muitas vezes, a sensação é de que o “nobre” ato de combater o plástico funciona mais para retirar o peso da culpa de quem, na prática, usa e descarta mal. Afinal, elimina-se o plástico e ele é substituído por qual outro material? 

A história mostra que o plástico mudou e facilitou as nossas vidas. O maior erro pode estar no descarte equivocado, e isso depende diretamente de cada um de nós. 

(Do jornal Zero Hora, maio de 2023)

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