O Banco do Brasil, como se
sabe, é o maior financiador da pecuária e agricultura nacionais. Devido aos
enormes recursos aplicados no setor, mantém ele numerosa equipe de fiscais que
percorrem as áreas rurais do país para verificar se o dinheiro emprestado está
sendo bem aplicado, qual o comportamento dos devedores e em que condições se
encontram os bens dados em garantia.
Desses relatórios foram sendo
extraídos, ao longo de décadas, trechos antológicos, que sozinhos se explicam:
→ Era uma ribanceira tão
ribanceada que, se estivesse chovendo e eu andasse a cavalo e o cavalo
escorregasse, adeus fiscal.
→ O gado está gordo e farto,
mas não é o financiado e sim emprestado para fins de vistoria. Daí que resolvi
abrir o bico.
→ Se não fosse a destreza
deste fiscal, a estas alturas estaria espetado nas guampas do “Mansinho”, que
de mansinho só tinha o nome.
→ Sugiro ao banco sequestrar os animais financiados.
(Mas como sequestrar animais já mortos?)
→ Anexos ao presente encaminho os animais apreendidos.
→ A lavoura nada produziu: mutuário fugiu montado na
garantia subsidiária.
→ Achei horrível o serviço.
Tudo ruim. Cliente vive devidamente bêbado e devendo aos bares, a Deus e ao
mundo.
→ As garantias permanecem em
perfeito estado de abandono e conservação. Mutuário mantém vida privada na
fazenda.
→ Esta vendendo em barraca emprestada de dia e fazendo
coisa boba de noite.
→ Levou vários tiros na
traseira, dados por um tal de “Bomba”, que perfazeu um total de dois buracos,
indo para o hospital.
→ O imóvel está uma boneca. Exemplos como estes devem
ser imitados.
→ A máquina elétrica financiada é toda manual e velha.
→ Financiado executou o trabalho braçalmente e
animalmente.
→ O sol castigou a
plantação. Se não fosse esse gigantesco astro, as safras seriam de acordo com
as chuvas, que não vieram.
→ Curral é todo feito a capricho, parecendo um salão de
baile à fantasia.
→ Percorrendo a lavoura
fumageira de dona Jurema, verifiquei que sua tabacaria encontrava-se seca e
impenetrável.
→ Visitamos um açude nos fundos da fazenda e, depois de
longos e demorados estudos, constatamos que o mesmo estava vazio.
→ Cliente fez roçado juntamente com a mulher.
→ Acho bom o banco suspender o negócio do cliente, para
não ter aborrecimentos futuros.
→ Desconfio que o mutuário está com intenção de pagar o
débito.
→ Não há bem que sempre dure
nem mal que nunca acabe: ele vai terminar sendo executado pelo banco.
→ Vendeu a casa, a velha e passou para a nova.
→ Fui atendido na fazenda
pela mulher do mutuário. Segundo soube, ninguém quer comprá-la e sim explorá-la.
→ Chegando na fazenda do “seu” Pedro Jacaré e não
encontrando o réptil...
O vento carregou com o chapéu
daquele fiscal, durante viagem de trem pelo interior, a serviço do banco. Ao
retornar, colocou em seu relatório de despesa: “Um chapéu novo... 100$000”.
O banco, porém, recusou-se a
ressarcir a despesa e mandou tudo de volta, pedindo que seu funcionário fizesse
outro, sem incluir o chapéu.
O fiscal esperou passar outra
viagem e apresentou o relatório dos gastos de ambas. Não especificou o chapéu,
mas “dissolveu” seu preço dentro do demonstrativo.
Antes de assinar, acrescentou: “Agora descubram onde cobrei
o chapéu, se puderem”.
(Do livro “Um
livro de histórias”, de Renato Maciel de Sá Junior)
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