sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Relatórios do Banco do Brasil



Banco do Brasil, como se sabe, é o maior financiador da pecuária e agricultura nacionais. Devido aos enormes recursos aplicados no setor, mantém ele numerosa equipe de fiscais que percorrem as áreas rurais do país para verificar se o dinheiro emprestado está sendo bem aplicado, qual o comportamento dos devedores e em que condições se encontram os bens dados em garantia.

Desses relatórios foram sendo extraídos, ao longo de décadas, trechos antológicos, que sozinhos se explicam:

→ Era uma ribanceira tão ribanceada que, se estivesse chovendo e eu andasse a cavalo e o cavalo escorregasse, adeus fiscal.

→ O gado está gordo e farto, mas não é o financiado e sim emprestado para fins de vistoria. Daí que resolvi abrir o bico.

→ Se não fosse a destreza deste fiscal, a estas alturas estaria espetado nas guampas do “Mansinho”, que de mansinho só tinha o nome.

→ Sugiro ao banco sequestrar os animais financiados. (Mas como sequestrar animais já mortos?)

→ Anexos ao presente encaminho os animais apreendidos.

→ A lavoura nada produziu: mutuário fugiu montado na garantia subsidiária.

→ Achei horrível o serviço. Tudo ruim. Cliente vive devidamente bêbado e devendo aos bares, a Deus e ao mundo.

→ As garantias permanecem em perfeito estado de abandono e conservação. Mutuário mantém vida privada na fazenda.

→ Esta vendendo em barraca emprestada de dia e fazendo coisa boba de noite.

→ Levou vários tiros na traseira, dados por um tal de “Bomba”, que perfazeu um total de dois buracos, indo para o hospital.

→ O imóvel está uma boneca. Exemplos como estes devem ser imitados.

→ A máquina elétrica financiada é toda manual e velha.

→ Financiado executou o trabalho braçalmente e animalmente.

→ O sol castigou a plantação. Se não fosse esse gigantesco astro, as safras seriam de acordo com as chuvas, que não vieram.

→ Curral é todo feito a capricho, parecendo um salão de baile à fantasia.

→ Percorrendo a lavoura fumageira de dona Jurema, verifiquei que sua tabacaria encontrava-se seca e impenetrável.

→ Visitamos um açude nos fundos da fazenda e, depois de longos e demorados estudos, constatamos que o mesmo estava vazio.

→ Cliente fez roçado juntamente com a mulher.

→ Acho bom o banco suspender o negócio do cliente, para não ter aborrecimentos futuros.

→ Desconfio que o mutuário está com intenção de pagar o débito.

→ Não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe: ele vai terminar sendo executado pelo banco.

→ Vendeu a casa, a velha e passou para a nova.

→ Fui atendido na fazenda pela mulher do mutuário. Segundo soube, ninguém quer comprá-la e sim explorá-la.

→ Chegando na fazenda do “seu” Pedro Jacaré e não encontrando o réptil...

O vento carregou com o chapéu daquele fiscal, durante viagem de trem pelo interior, a serviço do banco. Ao retornar, colocou em seu relatório de despesa: “Um chapéu novo... 100$000”.

O banco, porém, recusou-se a ressarcir a despesa e mandou tudo de volta, pedindo que seu funcionário fizesse outro, sem incluir o chapéu.

O fiscal esperou passar outra viagem e apresentou o relatório dos gastos de ambas. Não especificou o chapéu, mas “dissolveu” seu preço dentro do demonstrativo.

Antes de assinar, acrescentou: “Agora descubram onde cobrei o chapéu, se puderem”.

(Do livro Um livro de histórias, de Renato Maciel de Sá Junior)

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