Trem de Alagoas
Ascenso Ferreira
O
sino bate,
o
condutor apita o apito,
solta
o trem de ferro um grito
põe-se
logo a caminhar...
−
Vou danado pra Catende,
vou
danado pra Catende,
vou
danado pra Catende
com
vontade de chegar...
Mergulham
mocambos
nos
mangues molhados,
moleques,
mulatos,
vêm
vê-lo passar.
−
Adeus!
−
Adeus!
Mangueiras,
coqueiros
cajueiros
em flor
cajueiros
com frutos
já
bons de chupar...
−
Adeus, morena do cabelo cacheado!
Mangabas
maduras,
mamões
maduros,
mamões
amarelos,
que
mostram molengos
as
mamas macias
pra
gente mamar...
−-
Vou danado pra Catende,
vou
danado pra Catende
vou
danado pra Catende
com
vontade de chegar...
Na
boca da mata
há
furnas incríveis
que
em coisas terríveis
nos
fazem pensar:
−
Ali dorme o Pai-da-Mata
−
Ali é a casa dos caiporas
−
Vou danado pra Catende
vou
danado pra Catende
vou
danado pra Catende
com
vontade de chegar...
Meu
Deus! Já deixamos
a
praia tão longe...
No
entanto avistamos
bem
perto outro mar...
Danou-se!
Se move,
se
arqueia, faz onda...
Que
nada! É um partido
já
bom de cortar
−
Vou danado pra Catende
vou
danado pra Catende
vou
danado pra Catende
com
vontade de chegar...
Cana
caiana,
cana
roxa,
cana
fina
cada
qual a mais bonita,
todas
boas de chupar..
−
Adeus, morena do cabelo cacheado!
−
Ali dorme o Pai-da-Mata!
−
Ali é a casa dos caiporas!
−Vou
danado pra Catende
vou
danado pra Catende
vou
danado pra Catende
com
vontade de chegar...
Trem de ferro
Manuel Bandeira
Café
com pão
Café
com pão
Café
com pão
Virge
Maria que foi isto maquinista?
Agora
sim
Café
com pão
Agora
sim
Voa,
fumaça
Corre,
cerca
Ai
seo foguista
Bota
fogo
Na
fornalha
Que
eu preciso
Muita
força
Muita
força
Muita
força
Oô...
Foge,
bicho
Foge,
povo
Passa
poste
Passa
pasto
Passa
boi
Passa
boiada
Passa
galho
De
ingazeira
Debruçada
No
riacho
Que
vontade
De
cantar!
Oô...
Quando
me prendero
No
canaviá
Cada
pé de cana
Era
um oficiá
Oô...
Menina
bonita
Do
vestido verde
Me
dá tua boca
Pra
matá minha sede
Oô...
Vou
mimbora vou mimbora
Não
gosto daqui
Nasci
no sertão
Sou
de Ourucuri
Oô...
Vou
depressa
Vou
correndo
Vou
na toda
Que
só levo
Pouca
gente
Pouca
gente
Pouca
gente...
Trem sujo da Leopoldina
Solano Trindade
Trem
sujo da Leopoldina
correndo
correndo
parece
dizer
tem
gente com fome
tem
gente com fome
tem
gente com fome
Piiiiii
estação
de Caxias
de
novo a dizer
de
novo a correr
tem
gente com fome
tem
gente com fome
tem
gente com fome
Vigário
Geral
Lucas
Cordovil
Brás
de Pina
Penha
Circular
Estação
da Penha
Olaria
Ramos
Bom
Sucesso
Carlos
Chagas
Triagem,
Mauá
trem
da Leopoldina
correndo
correndo
parece
dizer
tem
gente com fome
tem
gente com fome
tem
gente com fome
tantas
caras tristes
querendo
chegar
em
algum destino
em
algum lugar
Trem
sujo da Leopoldina
correndo
correndo
parece
dizer
tem
gente com fome
tem
gente com fome
tem
gente com fome
Só
nas estações
quando
vai parando
lentamente
começa a dizer
se
tem gente com fome
dá
de comer
se
tem gente com fome
dá
de comer
se
tem gente com fome
dá
de comer
Mas
o freio de ar
todo
autoritário
manda
o trem calar
Psiuuuuuuuuuu
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