sábado, 19 de janeiro de 2019

D′O Homem ao Quadrado



Os Seis “Gangsters” de Chicago

O primeiro “gangster” chegou na janela, apontou o metralhadora para a rua: BANG, BANG, BANG, BANG, BANG, BANG, BANG, BANG, BANG, BANG!

O segundo “gangster” escondeu-se atrás do prédio da esquina e reagiu imediatamente: BENG, BENG, BENG, BENG, BENG, BENG, BENG, BENG, BENG, BENG!

O terceiro “gangster” surgiu no prédio em frente e começou a atirar: BING, BING, BING, BING, BING, BING, BING, BING, BING, BING!

Foi quando se ouviu lá no terraço, o quarto “gangster” em ação: BONG, BONG, BONG, BONG, BONG, BONG, BONG, BONG, BONG, BONG!

O quinto “gangster” saiu do banco empunhando a sua metralhadora de mão e atirou nos policiais que cercavam o prédio: BUNG, BUNG, BUNG, BUNG, BUNG, BUNG, BUNG, BUNG, BUNG, BUNG!

O sexto “gangster” ficou completamente impassível porque não havia mais vogais.

Quarto de Hotel

Quando o gerente, atendendo à reclamação dos outros hóspedes, chegou à porta do 505, ouviu exatamente um homem e uma mulher falando em voz alta. Dizia o homem: “meu amor”, respondia a mulher: “my love”; dizia o homem “minha querida”, respondia a mulher “my darling”; dizia o homem “minha vida”, respondia a mulher “my life”; dizia o homem “meu sonho”, respondia a mulher “my dream”. Foi ai que o gerente se irritou, usou a chave-mestra, invadiu o apartamento para tomar numa atitude. Foi então que o gerente ficou com uma cara deste tamanho, quando o professor pediu licença à sua aluna e lhe perguntou se também queria aprender inglês.

Violência

Segurou a moça pelo braço e fê-la deitar-se depois deu-lhe vários puxões no pescoço. Ela gritou. Ele não teve a menor reação. Passou a dar-lhes tapas no rosto. Ela tentou retirar-se, mas ele segurou-a violentamente e colocou-a de costas. Puxou-lhe as pernas, os braços, e começou a dar-lhe socos nas costas. Depois de algum tempo, disse apenas:

− Agora pode ir.

Era massagista.

A Máquina

Diante do gigante de aço, um homem gesticulava:

 Como o senhor está vendo, esta máquina faz tudo ao mesmo tempo. Este tubo aqui exala um ar quente que, em contato com o monóxido de carbono que passa por esse outro tubo, impulsiona esse pequeno gancho que fricciona essa pedrinha aqui, provocando a faísca que inflama o combustível. Este desce por esse cano e vai impulsionar os motores que giram a uma velocidade de 3728 rotações por segundo. Estes pratos provocam um calor que movimenta estes motores que funcionam a jato, enquanto que este dínamo gera eletricidade própria. Tudo funcionando normalmente, produz um resultado consideravelmente satisfatório, pois essa máquina fabrica 1100 pães de forma por minuto, 350 mostradores de relógios, 810 alfinetes de cabeça, 25 máquinas de escrever, 986 cabos de vassoura, além de pequenos pares de peças para aviões bimotores.

O visitante ficou boquiaberto:

− Mas isso é fantástico! E como é que se faz funcionar essa máquina?

O inventor esfregou as mãos de contente e respondeu:

− Muito simples. Basta apertar esse botãozinho aqui.

O visitante, cheio de curiosidade, quase que implorando:

− Então, o senhor podia me dar uma demonstraçãozinha?

O inventor, mudando a fisionomia, completamente triste:

− Infelizmente ainda não descobri como fazer funcionar este maldito botão.

A Dúvida

O marido já não acreditava mais naquela história de dentista. Primeiro, era uma vez por semana, depois passou a três e agora era todo dia.

A desculpa não variava nunca:

− Querido, hoje vou ao dentista.

Foi por isso que resolveu tirar tudo a limpo. Quando a esposa se arrumou e saiu, ele resolveu segui-la. Meia hora depois entrava num prédio, pegava um elevador e entrava num consultório de dentista. Foi aí que ele passou a dormir calmamente e a viver tranqüilo. E foi aí que ela passou a ter mais liberdade de traí-lo com o dentista.

O Encontro

O telefone tocou, ele atendeu, marcaram encontro. Fez a barba, tomou banho, vestiu-se. Há uma semana que não via a noiva e hoje era domingo, dia de ir ao cinema com ela. Apertou o botão, esperou o elevador, desceu, alcançou a rua e foi esperar o ônibus. Fez baldeação e chegou lá duas horas depois. Meyer. Ainda teve de esperar quarenta minutos para que ela acabasse de se arrumar. Sua futura sogra serviu- lhe um cafezinho na varanda, seu futuro sogro conversou com ele sobre a situação internacional, depois leu um jornal, depois ela apareceu. Saíram apressados. O cinema era logo ali na esquina. Foram correndo. Ele entrou na fila e ela ficou esperando perto da portaria. Trinta e oito minutos depois ele apareceu com os ingressos na mão. Entraram. No salão escuro o vagalume indicou: “um lugar”. Ela então correu e sentou.
  
A Mulher Exemplar

Antes de tudo, linda. Esbelta. Elegante. Um olhar inteligente. Lábios frescos, bem vermelhos. Pele rosada. Cabelos castanho-claros. Joias caríssimas. Não fumava. Não bebia. Não jogava. Centenas de pessoas paravam para admirá-la. Era discutida. Na maioria das vezes elogiada. Enaltecida. Permanecia impassível. Indiferente. Seus olhos azuis pareciam brilhar de orgulho. Incapaz de dar um sorriso para quem quer que a fitasse. Era um quadro.
  
(Do livro “ O Homem ao Quadrado”, de Leon Eliachar)


Leon Eliachar, assinatura.

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