Esopo, na versão de Olavo Bilac
Um velho soldado,
um dia, por terra,
a espada atirou;
da guerra cansado,
com nojo da guerra,
as armas quebrou.
Entre elas estava
trombeta esquecida:
era ela, que, no ar,
os toques soltava,
e à luta renhida
tocava avançar.
E disse: “Meu dono,
é justo que a espada
tu quebres assim!
Mas que, no abandono,
fique eu sossegada!
Não quebres a mim!
Cantei tão somente...
Não sejas ingrato
comigo também!
Eu sou inocente:
não piso, não mato,
não firo a ninguém...
Nas horas da luta
alegre ficavas,
ouvindo o meu som.
Atende-me! Escuta!
Se então me estimavas,
agora sê bom!”
E o velho guerreiro
Lhe disse: “Maldita!
Prepara-te! Sus!
Teu som zombeteiro
as gentes excita,
à guerra conduz!”
Terrível, irado,
jogou-a por terra,
sem dó a quebrou...
E o velho soldado,
cansado da guerra,
por fim repousou.
Olavo Bilac: Poesias
Infantis. RJ: Francisco Alves. 1929.
Olavo Bilac – eleito príncipe dos
poetas brasileiros, em 1907, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras
e também autor da letra do “Hino à Bandeira” – escreveu muitos poemas
destinados ao público infantil. Segundo suas próprias palavras, era preciso
achar assuntos simples, humanos, naturais, que, fugindo da banalidade, não
fossem também fatigar o cérebro do pequenino leitor, exigindo dele uma reflexão
demorada e profunda.
Em uma época de tantos conflitos
mundiais, em que a paz é quase uma ordem, O soldado e a trombeta, embora tenha
sido escrito há tanto tempo, tem muito a dizer para as crianças de hoje. Um
velho soldado/ Um dia, por terra,/ a espada atirou;/ da guerra cansado,/ com
nojo da guerra,/ as armas quebrou.
(Global Editora)
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (16.12.1865 – 28.12.1918), jornalista, escritor e membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1896), onde ocupou a cadeira 15, cujo patrono é o poeta Gonçalves Dias. É autor de Poesias Infantis (1904 ou 1929); Teatro Infantil (?); Contos Pátrios (1904); Antologia Poética (?); Crônicas e Novelas (1894); Tarde (1919); Crítica e Fantasia (1906); Tratado de Versificação (1910); Dicionário de Rimas (1913); Ironia e Piedade (1916); Conferências Literárias (1906).
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