quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Parábola do Meeiro

 

Certo meeiro* há muitos anos trabalhava as terras de um latifundiário, num convívio de perfeito equilíbrio e harmonia. 

Das rendas auferidas o meeiro destinava:

·   25% ao dono da terra,

·   20% insumos agrícolas,

·   30% mão de obra,

·   15% investimentos,

·   10% sustento da família.

O meeiro vivia feliz, até que certo dia ao fim de uma safra, o dono da terra lhe disse: 

− Olha..., eu estou endividado. Os empréstimos bancários estão consumindo tudo quanto eu arrecado. As coisas não vão bem. Não consigo administrar as minhas receitas. Contratei empregados demais, sabe como é, dei estabilidade no emprego para todos e agora a maior parte deles não quer fazer mais nada. Marcam o ponto, deixam os paletós nas cadeiras e cada um vai cuidar da sua própria vida. Alguns até tem até vários empregos. Só me resta contar com você. Na próxima safra você vai me pagar 35%. 

O meeiro reclamou, mas acabou concordando. Dispensou 5% da mão de obra, cortou 5% dos investimentos e pagou os 35% ao dono da terra. Mal terminou de pagar os 35% e o dono da terra lhe disse que na próxima safra necessitava receber 45%. 

− Sabe como é − disse o dono da terra − a minha dívida aumentou, as empresas produzem menos e as despesas são cada vez maiores. Não há outra solução, você vai me pagar os 45%. 

O meeiro rangeu os dentes e virou-lhe as costas, mas, mal deu os primeiros passos, voltou e concordou. O que fazer? Onde vou cortar? − questionava-se o meeiro. 

Os investimentos já estavam contratados. Os custos da mão de obra e o sustento da família estavam no limite, resolveu então cortar 10% nos insumos agrícolas. 

Ao final da safra apareceu o dono da terra para receber os seus 45% e constatou que estava recebendo muito menos do que recebera na safra anterior. 

− Esta conta está errada − disse o dono da terra imaginando estar sendo lesado pelo meeiro. 

Prontamente o meeiro esclareceu: 

Na safra anterior para pagar 35%, cortei 5% na mão de obra e 5% no investimento. Com muita dificuldade, fiz os operários trabalharem mais para suprir a diminuição da mão de obra e do investimento. Nesta safra só me restava cortar 10% nos insumos agrícolas e como resultado, colhi menos que na safra anterior. Para a próxima safra já não tenho mais sementes. Estou pensando em pedir empréstimo no seu banco, mas não posso lhe dar garantias. 

− Empréstimo sem garantias? − Gritou o dono da terra. Em ato contínuo grunhiu, esbravejou, rangeu os dentes, disse muitos palavrões, esmurrou as paredes, chutou o vento, citou leis, dissecou a constituição e terminou dizendo: 

− Aguarde... Meus auditores e meus advogados virão procurá-lo! 

O final da história foi lamentável. Como a justiça é demorada, o meeiro trabalhou doze safras na informalidade. Desobrigado de prestar contas ao dono da terra, quando o processo transitou em julgado, este se declarou insolvente. Na calada da noite, desocupou as terras, levando tudo consigo para local incerto e não sabido. 

O dono da terra sem contato com o meeiro, viu-se incapaz de se ressarcir dos prejuízos. 

Anos mais tarde, soube-se que o meeiro vivia próspero e estava mais feliz do que nunca. Na Informalidade, sem pagar ao dono da terra, transformou-se em grande latifundiário. 

Moral da história: 

IR, IPI, IPTU, IPVA, ICMS, PIS, COFINS, COFINS,... Já são 61 impostos. É impossível saber quantas taxas. E agora tentam impor a MP 232 elevando a base de cálculo da CSSLL de 32% para 40%! 

Quantos meeiros irão ser prósperos e felizes na informalidade? 

(Autor desconhecido)

*O meeiro ocupa-se de todo o trabalho, e reparte com o dono da terra o resultado da produção. O dono da terra fornece o terreno, a casa e, às vezes, um pequeno lote para o cultivo particular do agricultor e de sua família. Fornece, ainda, equipamento agrícola e animais para ajudar no trabalho.

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