domingo, 30 de março de 2014

Ari Barroso



Casos interessantes aconteceram também nos seus famosos programas de calouro. No início havia comissões julgadoras que depois foram abolidas, porque nem sempre Ari concordava com o julgamento. E assumiu a dar a ordem para gongar.
O programa tinha nuances deliciosas e humorísticas quando do diálogo de Ari com o calouro, vejamos:
- Seu nome?
- Sebastião da Silva, sim senhor...
- Que vai cantar?
- Não vou cantar, não senhor. Vou executar, em solo de pistão, o choro Pára-quedista, e preciso do acompanhamento de um pandeiro...
- Que venha o panderista...
O calouro vira-se para o panderista:
- Atenção: sol maior.


§ § §

Uma vez Elza Soares, iniciante na carreira de cantora, pobre de marré, foi se apresentar no seu programa de calouros. Magérrima, desgrenhada, com um vestido maior do que ela, provocou comentário imediato de Ari:
- Mas de que planeta você veio, minha filha?
- Do planeta fome, seu Ari!
Elza Soares cantou bem, ganhou o concurso e iniciou a sua carreira de sambista, com a bênção do apresentador.

§ § §

Outro caso conhecido sobre Ari Barroso envolve sua cidade natal, Ubá.
Dizem que certa vez ele estava com alguns amigos e uma senhora de Ubá reclamou:
- Ô Ari, você nunca fez uma música pra Ubá!
E Ari, como era gozador, respondeu:
- Fiz sim, minha filha!
- Não que eu saiba!
E ele cantou uma música, mudando a letra: “Mas se algum dia talvez a saudade apertar. Não se perturbe, afogue a saudade nos copos de Ubá.”
A letra original é “Nos copos de um bar.”
E a mulher saiu indignada.


§ §§

Conta-se que Ari Barroso, certa vez, no seu famoso programa Calouros em desfile, na TV Record, recebeu um candidato que atacou de Aquarela do Brasil, famosa composição de autoria do apresentador. “Brasil, meu Brasil brasileiro / Meu mulato inzoneiro / Vou cantar-te nos meus velsos.”
- Pode parar! Pode parar! Nos seus velsos o senhor pode cantar; agora, nos meus versos, o senhor não vai cantar não!

§ § §

Ari recebe um telefonema de uma dessas mocinhas engomadas que frequentam o seu programa de calouros. Foi assim:
- Alô!
- Quem fala?
- Ary Barroso.
- Como vai, sua cavalgadura?
- Muito bem, minha irmã.
Desligou rápido.


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Sem dúvida, Calouros em Desfile sobreviveu tanto tempo, em emissoras diferentes, porque o ouvinte e o telespectador divertiam-se com Ari Barroso, que continuava o mesmo. No programa de estréia na TV Rio, um candidato cantou uma marcha de sua autoria, que mereceu o gongo por causa do primeiro verso (“São João, São João, compadre da Virgem Maria”). Justificativa do apresentador:
- Meu filho, por favor, não crie problemas familiares em meu programa.

§ § §

Algumas vezes, era o calouro que derrubava o apresentador.
- O que o senhor vai cantar?
- Escrava Isaura.
- E quem são os autores desta Escrava Isaura? Aqui, toda música tem autor.
- Ari Barroso.
- Quem?
- Ari Barroso, sim senhor.
- Sendo assim, vamos todos conhecer juntos Escrava Isaura, de Ari Barroso.
Calouro (cantando) - “Quem se deixou Escrava Isaura...” *


* (quem se deixou escravizar...)

§ § §


Em princípios de 1964, em um hospital, por causa da cirrose hepática, telefona para David Nasser e anuncia que vai morrer. “Como é que você sabe, Ari?” – “Estão tocando as minhas músicas.”


Leia o livro (capa acima) “No Tempo de Ari Barroso”, 
de Sérgio Cabral. Lumiar Editora




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