Adolph Ochs, o famoso proprietário do New York Times, possuía uma
linda casa de verão nas imediações do Lago George, onde Karl Abbott, proprietário de uma vasta rede de hotéis, se deleitava
no terraço de seu Hotel Sagamore às margens da Lagoa.
Os
dois homens se conheciam vagamente, até que em pleno verão norte-americano Abbott recebeu estranho telefonema de Ochs, que a estas alturas, já velho e
doente, estava impedido de sair de Nova York.
− Escute
Karl, disse Adolph − eu gostaria que me fizesse um favor. Sei que está sentado
ao lado da janela grande do seu escritório, em frente ao lago. Peço-lhe apenas
descrever-me o que vê. Não omita coisa alguma. As folhas já começaram a cair?
São quatro horas mais ou menos. O sol deve estar bem por cima do morro e, se há
brisa, as ondulações do lago estarão vibrando nos seus reflexos... Os pinheiros
cresceram muito este ano, perto do ancoradouro dos barcos? Olhe pela janela,
Karl, e descreva para mim tudo que vê.
Abbott
falou com Ochs bem uma meia hora, correspondendo ao desejo do enfermo.
Descreveu as árvores, as nuvens, o céu, os matizes cambiantes do outono. Foi o
pedido mais extraordinário que jamais lhe haviam feito, mas continuou falando
até terminar a minuciosa descrição. O grande jornalista lhe agradeceu
cordialmente, elogiou a nitidez do quadro que lhe fora descrito e desligou o
telefone. Quando na manhã seguinte, Abbott recebeu os diários de Nova York, viu
que Adolph Ochs falecera às 8 horas da noite anterior...
(Almanaque do Correio do Povo de 1982)
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