sábado, 29 de março de 2014

O poema e a paródia VI

O poema

Benedicite!

Olavo Bilac

Bendito o que, na terra, o fogo fez e o tecto;
E o que uniu a charrua ao boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada; e o que do chão abjeto,
Fez, aos beijos do sol, o ouro brotar do trigo;

E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E o que os fios urdiu; e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo;

E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano;
E o inventou o canto; e o que criou a lira;
E o que domou o raio; e o que alçou o aeroplano...

Mas bendito, entre os mais, o que, no dó profundo,
Descobriu a Esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo!

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A paródia

Maledicite!

Klecius Caldas e Carlos Henrique da Rocha Lima

Maldito o que inventou da horrível geometria
As complicadas Leis e pérfido teorema!
Maldito aquele que, num malfadado dia,
Resolveu sobre a terra o primeiro problema!

Maldito seja o pai, mãe, avó, a tia
E toda a geração de quem só tem um lema:
Ensinar no colégio as Leis da simetria,
E os anos vão passando e é sempre o mesmo esquema.

Malditos sede vós, terríveis algarismos,
Que sois o mais cruel de todos os abismos,
Que o aluno espezinhais, aos bandos, aos enxames...

Mas maldito entre os mais o professor esguio,
Fantasma de Platão, altivo, grave, frio,
Que os prepara em fileira, aguardando os exames.

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(Esta poesia satírica foi feita em “homenagem”
ao professor de Matemática Cecil Thiré, 
do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro)


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