domingo, 30 de março de 2014

O dia em que o Mestre Cartola chorou em Porto Alegre



Cartola por Amarildo

Angenor de Oliveira
(1908 – 1980)

Cartola fez uma viagem ao Sul do Brasil no Projeto Pixinguinha. Cartola dividia o espetáculo com João Nogueira, acompanhados ambos pelo Grupo Bandola. Em Porto Alegre se apresentaram de 10 a 14 de outubro de 1977.

A viagem pelo Sul do Brasil trouxe-lhe uma tristeza grande, em Curitiba, e uma alegria, em Porto Alegre. Em Curitiba, no dia 6 de outubro, uma quinta-feira, João Nogueira recebeu um telefonema do Rio, informando que o velho Sebastião de Oliveira, pai de Cartola, havia morrido. A notícia já era mais ou menos esperada. Cartola tinha obrigado o velho a mudar-se de Bento Ribeiro para sua casa, em Mangueira, porque ele estava bem mal. Havia também deixado com a Zica até dinheiro para qualquer eventualidade. João Nogueira conta:

Cartola foi almoçar fora do hotel e voltou para dormir. Deixei-o acordar e fui falar com ele. Recebi uma notícia chata do Rio. Teu pai... você sabe... estava mal... pois é... ele morreu. Durante alguns minutos, Cartola permaneceu calado e disse depois.

- Mas eu vou fazer o show hoje.

No dia seguinte, de manhã, pegou um avião, em Curitiba, foi ao cemitério de Ricardo de Albuquerque, assistiu ao enterro e voltou no mesmo dia para Curitiba, onde novamente fez o show.

A perda de um pai não pode ser consolada. Mas a manifestação de carinho, que o povo de Porto Alegre prestou a Cartola, com certeza concorreu muito para minar-lhe o sofrimento. Foi na terça-feira seguinte, dia do seu aniversário. Na hora do show lá estava ele no Teatro da Reitoria. Nunca chegava atrasado. Aí, ele mesmo conta: “Eu não esperava por aquilo. Subi no palco, plateia muito boa, casa cheia. Cantei diversas músicas. Quando eu cantei As rosas não falam e comecei a cantar que bobagem as rosas não falam, jogaram tanta rosa no palco, em cima de mim... tanta rosa!... Eu parei. Comecei a chorar de emoção. Mas eu não estava sabendo daquilo. Não esperava por aquilo.”

(Do livro “Cartola os tempos idos”,
de Marília Barboza da Silva e Arthur de Oliveira Filho)
  

As rosas não falam

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração,
Pois já vai terminando o verão, enfim.
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar,
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim.
Queixo-me às rosas,
Mas, que bobagem, as rosas não falam.
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai...
Devias vir para ver os meus olhos tristonhos,
E quem sabe sonhavas os meus sonhos,
por fim.


Nenhum comentário:

Postar um comentário