sábado, 29 de março de 2014

Os dois mares



Na Palestina existem dois mares: Um é doce e em suas águas abundam os peixes; prados e jardins enfeitam suas margens. As árvores estendem sobre ele seus ramos e avançam suas raízes sedentas para beber as águas saudáveis. Em suas praias brincam, aos grupos, as crianças como brincavam quando Jesus ali estava.

Ele amava este mar contemplando sua prateada superfície, muitas vezes predicou ali suas parábolas. E num vale vizinho deu de comer a cinco mil pessoas com cinco pães e alguns peixes. As cristalinas águas espumantes de um braço do Rio Jordão, que descem saltando dos cerros, formam este mar que ri e que canta sob a carícia do sol.

Os homens edificam suas casas perto dele; e os pássaros, seus ninhos. E tudo quanto ali vive é feliz, apenas por estar às suas margens.

O Jordão desemboca ao Sul em outro mar. Ali não há movimentos de peixes, nem sussurros de folhas, nem canto de pássaros, nem risos infantis. Os viajantes evitam esta rota, a menos que a urgência de seus negócios os obrigue a segui-la. Uma atmosfera densa paira sobre as águas desse mar que nem o homem, nem a besta, nem a ave bebe jamais.

A que se deve esta enorme diferença entre dos mares vizinhos?

Não se deve ao rio Jordão, tão boa é a água que lança num como no outro. Também não se deve ao solo que lhes serve de leito e nem às terras que circundam. A diferença se deve a isto: O Mar da Galileia recebe as águas do rio Jordão, mas não as retém ou as conserva em seu poder. Para cada gota que entra, sai uma gota. O dar e o receber se cumpre ali em idêntica medida.

O outro mar é avaro e retém, com ciúmes, o que recebe. Jamais é tentado por impulso generoso. Cada gota que ali cai, é gota que ali fica.

O Mar da Galileia dá e vive.

O outro não dá nada e chama-se Mar Morto.

Há duas classes de gente neste mundo...

Há dois mares na Palestina...

 (Texto de Paulo Rogério Petrizi)


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