sábado, 29 de março de 2014

Textos do verdadeiro Ruy Barbosa



Desalento

De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

Palavras à Juventude

“Habituai-vos a obedecer, para aprender a mandar. Costumai-vos a ouvir, para alcançar a entender. Afazei-vos a esperar, para lograr concluir. Não delireis nos vossos triunfos, para não arrefecerdes. Imaginai que podeis vir a saber tudo, para não presumirdes, refleti que, por muito que souberdes, mui pouco tereis chegado a saber. Sede, sobretudo, tenazes, quando o objeto almejado se vos furtar na obscuridade avara do ignoto. Aprofundai a escavação, incansáveis como o mineiro no garimpo. De um momento para outro, no filão renitente se descobrirá, talvez, por entre a ganga, o metal precioso.”

(Trecho de “Palavras à Juventude”,
discurso de paraninfo dos bacharéis em Letras, 1903)

Deus

Deus que me infundistes o amor da beleza, da verdade e da justiça; que povoais da vossa presença as minhas horas de arrependimento, de perdão e de segurança na vossa misericórdia; que há dezenas de anos me descobris os meus erros, me reergueis dos meus desalentos, me conduzis pelo vosso caminho; dai-me, agora mais do que nunca, o ânimo de não mentir aos meus semelhantes, de me não corromper nos meus interesses, de não temer ameaças, não me irritar de injúrias, não fugir a responsabilidades. Se a mercê da salvação da nossa liberdade e da nossa fortuna, da nossa paz e da nossa honra, postas nas vossas mãos onipotentes, exigir o sacrifício de um em satisfação das culpas de todos, não vos detenha, Senhor, a miséria do resto dos meus dias, cansados e inúteis. Mas não permitais que as maquinações do egoísmo de alguns prevaleçam ao bem de um povo inteiro, que a barbárie senhoreie de novo a nossa pátria, que os semeadores da violência e desunião vejam prosperar outra vez a sua funesta sementeira nas regiões benditas, sob cujos céus acendestes a constelação da vossa cruz.”


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