domingo, 30 de março de 2014

O Lírico e o Social

Canção entre parênteses

Guilherme de Almeida


Que bom que você veio!

(Estava de ouro na janela o poente:
e cerrei a janela calmamente;

no meu cigarro havia um céu inteiro:
e deixei-o apagar-se no cinzeiro;

o romance que eu lia era o mais lindo:
e marquei minha página, sorrindo;

o meu sorriso era o melhor que existe:
e desfolhei-o, docemente triste;

a frase que eu pensava era tão louca:
e fechei para um beijo a minha boca;

nos meus olhos a vida ia cantando:
e olhei para você quase chorando...)

Que bom que você veio!


O bicho

Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície d pátio
Catando cômoda entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão.
Não era um gato.
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.




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