Os
110 Amigos
Camilo Castelo Branco
Amigos,
cento e dez, ou talvez mais
Eu
já contei. Vaidades que sentia:
Supus
que sobre a terra não havia
Mais
ditoso mortal entre os mortais!
Amigos,
cento e dez, tão serviçais
Tão
zelosos das leis da cortesia,
Que
já farto de os ver me escapulia
Às
suas curvaturas vertebrais.
Um
dia adoeci profundamente:
Ceguei.
Dos cento e dez houve um somente
Que
não desfez os laços quase rotos.
- Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se
ele está cego, não nos pode ver?
- Que cento e nove impávidos marotos...
Um
dia alguém bateu de leve à minha porta:
“Deixa-me
entrar (pediu), tristonho ser que chora!
Que
eu quero despertar tua alma quase morta...”
- Era a Esperança vã... e eu a mandei embora.
Um
dia alguém bateu de novo à minha porta:
- “Eu trago o linimento ao mal que te devora!
Inda
que seja imensa a tua dor... que importa?”
- Era a Ilusão (tão bela)... e eu a mandei embora.
Depois...
o Amor, a Glória, o Sonho, a Ambição,
Todos
bateram, e eu a todos despedindo
Os
fui; e me quedei com minha solidão...
Um
dia alguém chegou, mas não bateu; abriu
A
porta e, docemente, me abraçou sorrindo:
- Era a Saudade; entrou... e nunca mais partiu...
Nenhum comentário:
Postar um comentário