quarta-feira, 27 de junho de 2018

Sensibilidade...



Phillippe de Rothschild

Consta que, certa noite, muitos anos atrás, um homem entrou com a namorada no restaurante Lucas Carton, em Paris e pediu uma garrafa de Mouton Rothschild, safra de 1928. O sommelier, em vez de trazer a garrafa para mostrar ao cliente, traz o decanter de cristal cheio de vinho e, depois de uma mesura, serve um pouco no cálice para o cliente provar.

O cliente, lentamente, leva o cálice ao nariz para sentir os aromas, fecha os olhos e cheira o vinho. Inesperadamente, franze a testa e, com expressão muito irritada, pousa o copo na mesa, comentando rispidamente:

- Isso aqui não é um Mouton de 1928!

O sommelier assegura-lhe que é. O cliente insiste que não é. Estabelece-se uma discussão e, rapidamente, cerca de 20 pessoas rodeiam a mesa, incluindo o chef de cuisine e o gerente do hotel que tentam convencer o intransigente consumidor de que o vinho é mesmo um Mouton de 1928.

De repente, alguém resolve perguntar-lhe como sabe, com tanta certeza, que aquele vinho não é um Mouton de 1928.

- O meu nome é Phillippe de Rothschild, diz o cliente modestamente, e fui eu que fiz esse vinho.

Consternação geral. O sommelier, então de cabeça baixa, dá um passo à frente, tosse, pigarreia, bagas de suor escorrem da testa e, por fim, admite que serviu na garrafa de decantação um Clerc Milon de 1928, mas explica seus motivos:

- Desculpe, mas não consegui suportar a ideia de servir a nossa última garrafa de Mouton 1928. De qualquer forma, a diferença é irrelevante. Afinal, o senhor também é proprietário dos vinhedos de Clerc Milon, que ficam na mesma aldeia do Mouton. O solo é o mesmo, a vindima é feita na mesma época, a poda é a mesma, e o esmagamento das uvas se faz na mesma ocasião, o mosto resultante vai para barris absolutamente idênticos. Ambos os vinhos são engarrafados ao mesmo tempo. Pode-se afirmar que os vinhos são iguais, apenas com uma pequeníssima diferença geográfica.

Rothschild, então, com a discrição que sempre foi a sua marca, puxa o sommelier pelo braço e murmura-lhe ao ouvido:

- Quando voltar para casa esta noite, peça à sua namorada para se despir completamente. Escolha duas regiões muito próximas do corpo dela e faça um teste de olfato. Você perceberá a diferença que pode haver numa pequeníssima diferença geográfica!

* * * * * * *

Mouton Rothschild. Essas duas palavras dispensam apresentações a qualquer amante do vinho. Com mais de 150 anos de história, a Mouton é um dos ícones do Velho Mundo. Uma das melhores produtoras de Bordeaux, a vinícola tem uma peculiaridade: cada safra tem seu rótulo desenhado por um artista. “Todo ano produzimos um vinho único, a baronesa Phillippine de Rothschild faz questão de escolhê-los pessoalmente”, diz o enólogo Phillip Dhalluin.

Em 1922, o Barão Phillippe de Rothschild fez história ao resolver engarrafar a bebida em sua propriedade mesmo, algo até então inédito na região de Medoc. “Para mim foi um orgulho sem tamanho quando comecei a trabalhar na vinícola”, afirma Dhalluin. “Nossos vinhos são poderosos, austeros, muitíssimo bem estruturados, dificilmente se encontrará algum outro com nossa qualidade”, diz Dhalluin, que trabalha na Mouton desde 2003. Todos os vinhos são um misto de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot.

Nenhum comentário:

Postar um comentário