quinta-feira, 21 de junho de 2018

O golpe do bilhete premiado



Este é sem dúvida um dos golpes mais tradicionais e antigos do Brasil. Segundo algumas fontes os primeiros casos remontam até os anos quarenta.

Recebi, literalmente, dezenas de denúncias de vítimas deste tipo de fraudes. O roteiro clássico é o seguinte:

O golpista, com jeito de caipira pouco esperto ou de pessoa humilde, pede informações sobre o endereço de uma agência da Caixa Econômica Federal dizendo que é para receber um prêmio de loteria ou outro sorteio.

As vítimas típicas são pessoas idosas, às quais é mostrado o bilhete premiado (forjado ou falso), juntamente com um documento da Caixa Econômica Federal (também falso ou forjado) constando o número do bilhete premiado e o valor do prêmio.

Se for concurso tipo “mega-sena” será mostrado um comprovante dos números sorteados (verdadeiro ou falso) e um falso bilhete com aposta nos mesmos números.

Às vezes, eles apresentam um verdadeiro bilhete com aposta nos números ganhadores de um concurso anterior (veja exemplo abaixo), e um comprovante dos números sorteados naquele concurso, contando com a falta de atenção da vítima quanto ao número do concurso.

Em alguns casos o bilhete é forjado com o número de um bilhete que realmente ganhou, assim, o documento para comprovar o sorteio não precisa ser falsificado (pode ser um jornal).

A caminho da Caixa Econômica, e depois de muita conversa, o golpista propõe à vítima de lhe vender o bilhete premiado por uma fração do seu valor.

Em alternativa poderá apresentar a proposta como um pedido de ajuda para resolver problemas. Ajuda na qual a vítima supostamente sairia ganhando.

Para justificar a generosa oferta, dirá que tem pressa porque o ônibus para sua cidade parte em 15 minutos, que esqueceu ou perdeu os documentos (e não pode retirar o prêmio), que está desorientado com a burocracia ou com a “cidade grande”, que é analfabeto, que tem alguém esperando ele, que a mãe dele está no hospital etc...

Se a vítima cair nesta conversa, sacará o dinheiro da própria conta bancária e o entregará ao golpista em troca de um bilhete que não vale nada. Existem casos onde o golpista, em vez de dinheiro (que pode não estar disponível na conta da vítima), aceita valores como joias, dólares etc...

Existem variantes onde, para pressionar ou incentivar a vítima a ir sacar seu dinheiro no banco, no meio da conversa com o golpista que oferece o bilhete, aparece um comparsa se dizendo pronto a comprar o bilhete (aí a vítima pode achar que está perdendo um bom negócio), ou se oferecendo como sócio da vítima na compra do bilhete e mostrando parte do dinheiro necessário, ou ainda, prestativo, ajuda, ligando com o seu celular, a fim de verificar se o bilhete é mesmo “premiado”! (sic).

(Do Blog Monitor das Fraudes)

P.S. (1) Em Porto Alegre, no mês de junho 2018, uma senhora idosa foi abordada na rua por uma mulher em trajes humildes, perguntado onde havia uma agência da Caixa Econômica Federal, pois tinha a impressão que havia acertado na loteria. Uma moça, muito bem vestida, entrou na conversa “para ajudar”. Apanhou o seu celular, “telefonou para a Caixa”, recebendo a resposta no viva-voz, para que todos ouvissem. O interlocutor conferiu os “números” dizendo que, realmente, o bilhete estava premiado. A “infeliz” ganhadora diz que não sabe como proceder, e que, por qualquer quantia em dinheiro, ele se desfaz do bilhete. A senhora idosa afirma que tem 10 mil reais numa poupança. A mulher pobre, mas sorteada, dando suspiros de arrependimento, aceita a quantia, que se há de fazer... E mais uma vítima cai num velho e manjado golpe.

P.S. (2) Só cai nesse golpe a pessoa que nunca leu jornal, ou pessoas que não estão atualizadas com as picaretagens do mundo moderno. Geralmente, são pessoas idosas vindas do interior, onde tinham uma vida pacata sem as maldades de uma cidade grande, sendo, por isso, presas fáceis dos vigaristas modernos.

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