Bertolt Brecht
Meu filho, eu te fiz presente
das botas e dessa camisa parda;
soubesse o que sei agora,
teria preferido me enforcar.
Meu filho, quando eu via tua mão
erguida na saudação hitlerista,
não sabia que aqueles que o saudavam
haviam de ficar com a mão seca.
Meu filho, eu te escutava
perorar
sobre uma raça de heróis;
e não sabia, não via, não
pressentia
que eras o seu valete de
torturas.
Meu filho, eu via-te desfilar
nas pegadas de Hitler,
e não sabia que quem com ele seguisse
nunca mais haveria de voltar.
Meu filho, tu dizias: − A
Alemanha
vai ficar de não se reconhecer!
Eu não sabia que iria ficar
em cinzas e pedras tintas de
sangue.
Vendo-te por tua camisa parda,
eu contra aquilo não dizia nada
− pois então não sabia o que sei
hoje
que ela te serviria de mortalha.
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