segunda-feira, 4 de junho de 2018

Na Prisão

Karl Liebknecht*


Vós me roubais a terra, mas não o céu.
Não me resta dele mais do que um pedaço estreito
onde cravo meus olhos
através das grades
de uma janela de ferro
encurvada nas paredes pesadas...
Mas para mim é o bastante
ver o azul resplandecente do céu
de onde vem a luz,
que me ofusca quando me aproximo,
e de onde às vezes também
cai dançando um ligeiro murmúrio de pássaros...
Basta-me
que uma gralha negra, tagarela,
amiga fiel dos dias de cárcere,
me faça ver um ser alcançando um voo livre,
e que uma nuvem viajante
me ofereça a imagem das coisas mutáveis.
Não vejo mais do que um pequeno espaço do céu.
À noite passada
a estrela mais clara brilhava neste espaço,
a mais clara estrela resplandecia,
e seus raios brotavam das extremidades do firmamento
dominando o mundo,
mais claros, mais cálidos,
com um resplendor mais juvenil na minha estreita cela
do que para vós que estais em liberdade.
A estrela projetava aqui sua pequena mancha de luz.
Vós me roubais a terra, mas não o céu...
Não vejo dele mais do que um pequeno pedaço
através das grades
de uma janela de ferro...
Mas esta luz devolve os sentidos a este corpo,
animado por uma alma livre
como jamais tivestes,
vós que acreditastes
que poderíeis aniquilar-me
nas grades desta prisão!

(Do livro “Poemas da Liberdade”, de Edmundo Moniz)

*Karl Liebknecht (Leipzig, 13 de agosto de 187115 de janeiro de 1919) foi um político e dirigente socialista alemão.

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