domingo, 10 de junho de 2018

Melô do operário abandonado



Oh! Seu Oscar.

Composição: Wílson Batista e Ataulfo Alves

Cheguei cansado do trabalho,
Logo a vizinha me falou:
- Oh! seu Oscar,
Tá fazendo meia hora
Que a sua mulher foi embora
Um bilhete lhe deixou...
(Meu Deus, que horror!)
O bilhete assim dizia:

“Não posso mais,
Eu quero é viver na orgia!”
(bis)

Fiz tudo para ver seu bem-estar,
Até no cais do porto eu fui parar,
Martirizando o meu corpo noite e dia,
Mas tudo em vão,
Ela é, é da orgia.
(É... parei!)

Gravada originalmente em 1939 na RCA Victor por Ciro Monteiro, acompanhado por coro e regional da própria gravadora, e lançada em discos 78 rpm.

Outras gravações conhecidas são as de Roberto Silva (1958), Ataulfo Alves & suas Pastoras (1959), Os Cinco Crioulos (1967), Gilberto Milfont & As Gatas (1975), MPB-4 (1977), Ataulfo Alves Jr. & Elizeth Cardoso (1984), entre outras.

Contrariando as expectativas dos anos anteriores, em 1940, os sambas predominaram no lugar das marchinhas. Um dos mais cantados foi Oh! Seu Oscar, vencedora, aliás, de um concurso carnavalesco patrocinado pelo DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, órgão criado pela ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas. Oh! Seu Oscar chegou a vencer inclusive a Aquarela do Brasil, de Ary Barroso.

Com o título original Ela é da orgia, o samba fez tanto sucesso que, em março do mesmo ano, Odette Amaral lançava na própria RCA A mulher de seu Oscar, da mesma dupla de compositores, não alcançando, entretanto, a mesma repercussão.

A letra de Oh! Seu Oscar nos remete a tristeza de um operário que em tom de desabafo relata a um amigo o abandono da mulher que o deixara para ter, ou voltar, à outra vida, que não à de "casada". Edigar de Alencar*, tece o seguinte comentário a respeito:

“A tragédia do operário posta em relevo num tom meio impiedoso, foi tema de agrado do povo que logo o elegeu um dos seus favoritos. E o samba ficou famoso e foi premiado pela Prefeitura (...) Por esse tempo, os sambistas falavam mais em orgia do que em morro, feijão, etc...”

Interessante notar como determinados temas, ainda considerados tabu para a classe média, são facilmente abordados pelos nossos sambistas, que mencionam, no caso deste samba, ainda que de forma preconceituosa, a liberação da mulher.

* Edigar de Alencar. O carnaval carioca através da música. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1985, p. 279.

P.S. Há, na internet, uma gravação com Ataulfo Alves, um do autores da música.

Nenhum comentário:

Postar um comentário