Era o esculápio mais procurado na cidade onde mais de cinco médicos
obtinham sustento assegurado. Quem menos ganhava era o doutor Bracket, pois
seus doentes eram justamente aqueles que não podiam pagar. Mesmo assim não deixava
sem atendimento uma gestante em noite de intenso frio ou de cuidar de algum
pobre diabo vítima de um acidente qualquer. Seu consultório se localizava em um
sobrado, acima de um armazém. Havia uma escada estreita e, ao pé desta, na
parede, estava afixada uma placa na qual se lia; “Dr. Bracket – lá em cima” palavras grosseiramente escritas.
Tornara-se
noivo da filha de um banqueiro abastado, mas no dia do casamento chamaram-no
para ver uma criança em estado febril e o nosso herói largou tudo. A noiva
ofendida cortou relações porque “um homem como esse, capaz de faltar ao
casamento por causa de uma criança, não prestava para marido”. Como de costume
as madames apoiaram a noiva ultrajada(?), mas, os pais do garoto e o próprio
enfermo, que sarou por completo, como era de esperar, se encheram de profunda
gratidão pelo benfeitor.
Em
resumo: Durante 40 anos, os enfermos e semialeijados, os cegos, todos os
sofredores subiram as escadas que levavam ao consultório “Lá-em-cima” do
humanitário clínico que nunca deixou de atender a ninguém. Mal cruzara os 70
anos, um dia, de repente, caiu morto no sofá do consultório. Foi um dos
enterros mais importantes da cidade. Todos os moradores compareceram para
chorar o seu amigo. E se falou em subscrição para dar uma sepultura condigna a
doutor Bracket, mas, com sucede frequentemente nesses casos, a conversa foi
esmorecendo e ficou a sepultura com epitáfio e tudo graças à iniciativa da
família pobre daquele menino que o doutor havia salvado anos atrás. Era gente
pobre, mas que não se conformou com o fato de não de não haver uma sepultura
decente. Não tinham dinheiro, coitados, mas ocorreu-lhes uma ideia: foram
buscar a placa do consultório e a puseram sobre a tumba. E aí ficou o aviso: “Dr. Bracket – lá em cima”.
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