sábado, 20 de outubro de 2018

Sociedade Bailante



Na foto, à esquerda, a Cia Hidráulica Porto-Alegrense,
à direita, a Sociedade Bailante, em foto de Luis Terragno, de 1865.

Na antiga Praça da Matriz, no nível térreo da Assembleia, perto do Teatro São Pedro, havia a Bailante, construída pelo Comendador Batista, pouco depois da metade do século XIX. A sua fachada lembrava um pouco o estilo grego.

Afora as reuniões de família e o comparecimento ao Teatro, Porto Alegre era uma cidade escura, pouco oferecia em divertimentos noturnos. A Bailante, porém, teve muita aceitação e constitui-se, logo em seguida, em ponto de reunião da sociedade não só para dançar, mas para ouvir apresentações de flauta e cítara. Dançar polcas, valsas, mazurcas e xotes era o ponto máximo do lazer na época.

Logo depois da invenção dos irmãos Lumiére, o cinema chegou aqui com o filme “Paraíso no Rio”, que depois de exibido no Teatro São Pedro foi repetido na Bailante.

Mas não reuniam os porto-alegrenses só para divertimento popular. Em 1886 e 1887 a Bailante realizou apresentações brilhantes da Filarmônica Porto-Alegrense, com espetáculos chamados de soirée classique.

Quando o intendente Otávio Rocha, na década de 20, mandou demolir a Bailante, ninguém lembrava mais que no local aconteceram reuniões secretas do Partenon Literário apoiando a Abolição da Escravatura e ativando discussões políticas.

No seu lugar ergueu-se o Auditório Araújo Viana, que também mais tarde viria a ser demolido.

(Do livro “Porto Alegre foi assim...”
desenhos a nanquim de Hélio Ricardo Alves)


→ Acima, os terrenos onde hoje se encontra a sede do Parlamento Gaúcho eram ocupados pela Companhia Hidráulica Porto-Alegrense e pela Sociedade Bailante. A fotografia é de 1880.

→ A Sociedade Bailante situava-se na Praça da Matriz, onde hoje está a Assembleia Legislativa, mesmo antes do antigo Auditório Araújo Viana ser construído no mesmo local.

→ A Sociedade Bailante e o Teatro São Pedro ficavam muito próximos um do outro. Na verdade menos de 50 metros os separavam. Muitas vezes foram anunciados espetáculos nos quais o cinematógrafo era complementar, geralmente apresentado nos intervalos das peças teatrais e das óperas. A Bailante foi demolida em 1926, para a construção do antigo Auditório Araújo Viana (demolido) e no local se encontra atualmente o Palácio Farroupilha (Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul).


Auditório Araújo Viana por Sioma Breitman

→ Em 1927, o Intendente Otávio Rocha construiu, no local da antiga Sociedade Bailante e da Companhia Hidráulica Porto-alegrense, o Auditório Araújo Vianna para os concertos e apresentações de banda municipal, com concha acústica e uma plateia ao ar livre com 400 bancos que se estendiam ao longo de quatro terraços, emoldurados por pérgula ornada de roseiras. O Auditório foi demolido em 1955, para dar lugar ao Palácio Farroupilha, sede da Assembleia Legislativa, inaugurada em 1967. Como contrapartida um novo auditório foi construído no Parque da Farroupilha (Redenção).


Sociedade Bailante – 1890 – Foto de Virgílio Calegari


→ O início da demolição da Sociedade Bailante para que no local fosse erguido o antigo Auditório Araújo Viana. Na fotografia acima, a demolição dos escritórios da antiga hidráulica. Fotografias de 1926.


→ O antigo Auditório Araújo Viana erguido onde antes havia os tanques da Hidráulica Porto-Alegrense e a Bailante, na esquina da Praça da Matriz com a rua Duque de Caxias, teve projeto e construção do engenheiro italiano Armando Boni, de 1926 a 1927.


Auditório Araújo Viana e seus bancos de concreto

Por onde estão espalhados os bancos 
do antigo auditório Araújo Vianna?

→ É possível que você já tenha recorrido a um deles para descansar ou prosear sobre o tempo sem nem desconfiar que estava sobre um pedaço da história de Porto Alegre. Caracterizados por contornos delicados e ricos em detalhes, muitos dos bancos de concreto armado do antigo Araújo Vianna estão espalhados pela cidade, como pequenas ruínas do auditório que teve memoráveis concertos a céu aberto junto à Praça da Matriz entre as décadas de 1920 e 1950.

→ Quando a concha acústica foi demolida para a construção da sede da Assembleia Legislativa, os bancos foram reaproveitados em outros pontos – a prefeitura cita como exemplo a Redenção, parque onde foi construído o novo auditório. O ZH Pelas Ruas encontrou peças idênticas do mobiliário também na Praça Júlio de Castilhos e nos Jardins do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), no bairro Moinhos de Vento, em clube e em igreja do Teresópolis, na Zona Sul, e também na Praça Otávio Rocha, no Centro.

– Eu não sei de onde veio, nem quem fez ele. Mas dá pra ver que o formato é desenhado, que é diferente dos outros bancos de praça – disse o auxiliar fiscal Alex Júnior Silveira Alvarez, 17 anos, enquanto descansava na Otávio Rocha.

→ Os mais de 400 bancos do primeiro Araújo foram feitos em uma fábrica de artefatos de cimento nos fundos da casa do engenheiro Armando Boni (morto em 1946, com 59 anos), na Rua Marquês do Pombal. O italiano taciturno que chegou ao Brasil na década de 1910 desenhou e fabricou as peças, finalizadas a mão, e também foi responsável por projetar o auditório.

→ Como a prefeitura de Porto Alegre não dispõe de levantamento de localização desses bancos e Boni provavelmente usou as mesmas formas para outras encomendas, até mesmo para outras cidades, não é possível afirmar com convicção quais deles testemunharam as apresentações no auditório. Mas o filho do fabricante, o engenheiro aposentado Benito Boni, 92 anos, acredita que os que estão espalhados pela Capital, provavelmente, fizeram parte dessa história.

– Quando a gente se senta naquele banco, lembra coisas antigas – relata o aposentado, que assistia aos concertos da Banda Municipal nos bancos "normalmente cheios de gente".

→ Em 2009, a professora de Artes Jéssica Couto, 31 anos, rastreou e registrou cerca de 80 bancos para seu projeto de conclusão do curso de Fotografia na UFRGS – como foi divulgado por Zero Hora em reportagem do caderno Cultura no mesmo ano. Embora não se dedique mais com tanta intensidade, ela ainda não abandonou a pesquisa, e sonha em um dia publicá-la em livro.

– Para uns, são só bancos velhos, mas para mim sempre foram muito representativos pelo seu contexto, pela importância histórica, artística e afetiva para a cidade – diz Jéssica, acrescentando que os bancos comprados nas últimas décadas têm valor estético atrelado ao menor preço apresentado em licitação.

→ De acordo com informações do departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da prefeitura, os bancos não têm nenhum tipo proteção individual (não são tombados), e a Secretaria de Meio Ambiente, responsável por parques e praças, afirma que não há nenhuma ação de resgate histórico em andamento.

(Do jornal Zero Hora, outubro de 2016)




2 comentários:

  1. Meus cumprimentos pelo blog. Muito interessante esse relato sobre "A Bailante", quanto ao prédio da sociedade, o senhor pesquisou quem foi o Comendador Batista, que a construiu, de quem era a propriedade da "A Bailante", ou quem fazia parte dela?

    ResponderExcluir
  2. Uma matéria sobre o Comendador Batista também está neste almanaque:com o título "O Primeiro Grande Construtor de Porto Alegre".

    ResponderExcluir