terça-feira, 23 de outubro de 2018

A aguadeira do Riacho



O Arroio Dilúvio da antiga Porto Alegre inspirou poetas com lembranças cheias de ternura, à sobra dos salgueiros, nas curvas e do alto das barrancas.

O Riacho abasteceu os pioneiros da cidade, testemunhou combates e viu os cavalos dos guerreiros bebendo água na represa do Chico da Azenha. Pelo menos duas vezes por ano saía do seu leito à procura de espaço, levando tudo de roldão, desgraçando os ribeirinhos. O excesso de curvas fazia paredes reduzindo a velocidade do fluxo da água depois de uma chuvarada. Lupicínio Rodrigues nasceu no interior de um delta do Dilúvio; sofreu muito e, talvez por isso, nunca fez uma só frase poética lembrando aquela Ilhota. Mas Lunara (Luiz Nascimento Ramos) fotógrafo amador, nas primeiras décadas de 1900, tomou o Arroio Dilúvio como recanto inspirador das mais belas fotografias da periferia da cidade. A cena que mostra a “Aguadeira do Riacho”*, que foi capa da Revista Máscara em 1916, por si só mostra quase tudo, quando a poluição era apenas um vocábulo escondido nos dicionários.

(Texto do livro “Porto Alegre foi assim...”, 
desenhos a nanquim de Helio Ricardo Alves)

*Esta imagem foi reproduzida, a nanquim, pelo artista Hélio Ricardo Alves, no livro mostrado abaixo.



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