quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Os sete pecados da pronúncia

 

Subsídio jogo no time de subsolo, subserviente, subsalário, subsaariano, subsimilar, subsíndico, subsinuoso. Em todas, o s que vem depois do sub se pronuncia ss. Sem tossir nem mugir. 

Recorde, concorde e acorde orgulhosamente pertencem à equipe das paroxítonas. A sílaba mandachuva é cor sim, senhor. Dizer “récord”? É a receita do cruz-credo. Xô! 

Rubrica e (ele) fabrica  são irmãzinhas inseparáveis. A força delas mora na casa do meio − a paroxítona (bri). A dupla tem vizinhos legais. À direita, a senhora oxítona. À esquerda, a dona proparoxítona. Confundir endereços? Valha-nos, Deus. Papai Noel entregará os presentes para quem não pediu. Convenhamos: ninguém merece pagar tal mico. 

Nobel, Mabel, papel e cruel se pronunciam do mesmo jeitinho. A sílaba tônica é a última. Na dúvida, pense um pouco. Se Nobel fosse paroxítona, pertenceria à gangue de móvel e automóvel. Teria acento. Como não tem, a conclusão é uma só. O nome do prêmio mais cobiçado do planeta é oxítono e não abre. PT saudações. 

Ibero é a forma alatinada de ibérico. Trissílabo e polissílabo têm o mesmo significado. Designam os originários da Península Ibérica, que engloba Portugal e Espanha. A menorzinha mantém a marca da grandona. A sílaba tônica de ambas é a mesma − be. Diga, pois, sem medo de errar: cúpula ibero-americana, povos ibero-americanos, presidentes ibero-americano. 

Gratuito, fortuito e circuito são como unha e carne. Nas três, o ui forma ditongo. Não se separa nem com sangue, suor e lágrimas. Vamos combinar? Se a fortona recaísse no i, o acentão pediria passagem como em cuíca. 

Linguiça, tranquilo, cinqüentenário & cia. perderam os anéis, mas mantiveram os dedos. Em bom português: a reforma ortográfica lhes cassou o trema, mas a pronúncia nem ligou. Sabida, hein? A reforma é ortográfica. Só atingiu a grafia das palavras. 

(Do Blog da Dad Squarisi, no Correio Braziliense)

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