quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A espada milagrosa

 

Conta-se, e bem viva é a imaginação humana, que o Papa Sisto V costumava percorrer, de vez em quando, e disfarçado, as tavernas de Roma, a fim de melhor conhecer o seu povo. Numa dessas tavernas um soldado, depois de ter bebido à vontade, pagou ao taverneiro deixando-lhe a lâmina de sua espada, que substituiu por uma lâmina de madeira, logo metida na bainha. 

O Papa presenciou toda a cena, sem que ninguém o identificasse. No dia seguinte deveria realizar-se uma execução capital, diante de tropa. O comandante da mesma fez avançar um soldado, exatamente o da véspera, e comunicou que, por ordem de Sua Santidade, ele seria encarregado de executar o réu. O soldado empalideceu, mas depressa recobrou o ânimo, e, numa invocação piedosa, exclamou, a voz fortíssima: 

− Senhor! Faze com que a minha espada se transforme numa espada de madeira, evitando, assim, que sirva à morte de meu próximo, pois que Tu disseste que devemos amar ao próximo como a nós mesmos! 

Desembainhou então a espada, e a multidão ficou pasmada, diante do “milagre”. Vantagem para o réu, que foi perdoado − aliás, o crime não era dos maiores −, com a cumplicidade risonha e secreta de Sua Santidade. 

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