domingo, 19 de dezembro de 2021

Resistência

 Paulo Mendes

No poema “Palanque de amansar potro”, o pajador missioneiro Jayme Caetano Braun ciência: “Este palanque cravado ali na frente da estância/Tenho visto desde a infância levar trombada e tirão/Sem afrouxar o garrão embora todo lanhado/De mordida de aporreado e casco de redomão.” É uma imagem típica das antigas fazendas de criação de gado, retrato de uma época abarbarada, mas também é uma metáfora da vida, da vida campeira.  É preciso resiliência para poder sobreviver, é preciso garra, denodo, persistência e muita, muita resistência. Assim é em quase todos os setores da existência humana. Senão sobra apenas a derrota, a desistência e o medo. Aconteça o que acontecer, temos e devemos seguir em frente, sem afrouxar o garrão. Mesmo com algumas marcas e cicatrizes, “embora todo lanhado”, seguiremos em frente, porque foi para isso que estamos aqui, para sermos uma espécie de palanque cravado, para servir de abrigo aos desesperançados, aos deserdados da sorte e aos que nunca tiveram voz. “As Campereadas” dão voz a essa gente que trabalha e luta, no campo e na cidade, por um prato de comida e um pelego para dormir. 

(...) 

(Parte de uma crônica da coluna Campereadas,no Correio do Povo, dezembro de 2021)


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