sábado, 25 de dezembro de 2021

Como alguém pode defender a caça?

 Que diversão pode haver em matar um animal? 

Bruna Lombardi

Vocês também chegam exaustos neste final de ano? Sei que é tempo de festejar e queria dizer coisas alegres, no espírito do momento, mas depois de tempos intensos e noticiários estarrecedores, me pergunto como anda a nossa evolução. 

Uma dessas questões foi a caça, o conceito de matar um animal por diversão. Por mais que eu tente compreender o ser humano, tem coisas que fogem do meu alcance. Como alguém pode se divertir matando um animal? Tirar a vida de um bicho lindo e indefeso sem nenhuma razão? Como alguém pode defender a caça? O ato covarde de atirar de longe num animal, que tipo de diversão é essa?! 

Viralizou nas redes uma foto de uma família armada posando com crianças e orgulho ao lado de uma girafa morta. Como alguém atira num animal lindo e doce e um alvo tão fácil de acertar? Quem são esses criminosos? Uma família inteira de psicopatas? 

Alguém me explica isso!? 

Fiquei horrorizada e, conversando sobre isso com amigos num almoço, disse que acreditava na Lei do Carma: quem cometia um crime desses só podia carregar uma tremenda carga negativa pro resto da existência. Nem todos concordam com as leis do Universo, mas pelo menos todos concordaram que caçar e matar um animal por diversão é um crime hediondo. 

Foi aí que alguém lembrou do Hemingway, que além de grande escritor foi um caçador notório. Na época, a ficha da crueldade e da extinção ainda não tinha caído, argumentei. A consciência do mundo vem aos poucos, demorada. 

Despertamos devagar. E completei dizendo que Hemingway não deixa de ser uma prova da ação do Carma, pois ele mesmo acabou dando um tiro na própria cabeça, e a tragédia de sua família durou gerações. 

Como é possível que se defenda a caça? Quem mata um animal e sente prazer nisso gosta que os outros sofram. Existe um potencial de maldade que faz pessoas assim não terem a menor empatia. São movidos pelo ódio, sentimento coletivo presente em todas as atrocidades que conhecemos através da História. 

No Império Romano, cristãos eram jogados aos leões, enquanto a grande massa torcia pelo momento culminante. Ver a agonia de quem estava sendo devorado era a suprema diversão. 

Em cada época, há uma sequência de massacres, e sem evolução continuaremos pessoas cruéis, indiferentes, sádicas com o sofrimento alheio. O ódio é o grande vírus que atravessa os tempos e está presente em cada espetáculo da morte. Nas praças públicas, assistia-se a enforcamentos, guilhotinas, fogueiras que queimavam as bruxas. A ignorância gera embrutecimento, violência, guerras, brutalidade. 

No Natal, comemoramos o nascimento de Jesus que, vítima do ódio, foi crucificado. Talvez ainda seja preciso mais tempo, mais gerações para que se compreendam e sigam as palavras de Jesus. Talvez depois de pandemias e cataclismos climáticos finalmente a humanidade possa se transformar. Possa despertar e desabrochar seu incomensurável amor. 

Que a consciência coletiva descubra que o amor por todo ser vivo e pela natureza é o patamar mais elevado da categoria humana. E é a única coisa que pode nos salvar. 

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(Do caderno Vida, de Zero Hora, dezembro de 2021)

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