domingo, 19 de dezembro de 2021

A vitória é uma espada

 Monja Coen

“A vitória é uma espada. Não se pode sentar sobre ela.” Essa frase foi do Dunga, ex-treinador da Seleção Brasileira de futebol. Estávamos juntos em um evento e compartilhamos uma refeição, ao final de nossas falas a um grande público. Isso foi há alguns anos... 

Nunca me esqueci dessa preciosa frase de sabedoria. Quando achamos que conseguimos, que está ganho e tudo certo, se sentarmos sobre a vitória ela nos cortará ao meio. É preciso continuar treinando, se aperfeiçoando, num processo contínuo. 

No domingo passado (12.12.2021), em Abu Dhabi, vimos o caso do piloto da Mercedes-Benz Lewis Hamilton, representando a Inglaterra no Mundial de Fórmula 1. Ele liderava a prova desde a largada. Já saiu na frente do único outro piloto que poderia ser competição para ele, Max Verstappen, da Holanda e da Red Bull. Quando já estava há mais de 15 ou 17 segundos de distância e faltavam poucas voltas, a vitória parecia garantida, mas houve um acidente com um outro piloto. Ninguém se feriu. Mas durante o tempo que levaram para retirar o carro quebrado da pista, foram várias voltas lentas pelo circuito. Durante esse tempo, Max ficou exatamente atrás de Hamilton. Quando foi permitido voltar a correr, já era a última volta. No finalzinho dessa última volta, Verstappen passou Hamilton e ganhou. 

Sem sair do carro por alguns momentos, Hamilton, que já estava sentindo a taça em suas mãos, ficou pasmo. 

Já Verstappen, emocionado, saiu do carro e se escondeu atrás do pneu traseiro e chorou agachado. Ele não esperava ganhar. E Hamilton, que já se considerava vitorioso, perdeu. Acidentes de percurso. Até o último instante não sabemos exatamente o resultado. Tudo pode mudar. 

A frase de Dunga novamente se mostrou verdadeira. Quantos de nós, quando achamos que temos tudo ganho e tudo feito, nos sentamos no sucesso, na vitória e somos partidos ao meio, cortados, atravessados, pois deixamos de acelerar ou não tomamos as medidas adequadas, pensando que a vitória já era nossa. 

Cuidado! O ano está findando. Se você acha que saiu vitorioso, vitoriosa, não pare de manter a atenção e o cuidado amoroso. 

Da mesma maneira, a mente desperta − chamada de Mente Bodai − precisa ser protegida e estimulada constantemente. Não existe um despertar e depois descansar. Há inúmeros momentos de clareza, de apreciação. Mas a prática é incessante. Se você achar que já sabe tudo, que já atingiu seus objetivos, cuidado. É exatamente aqui onde não deve parar. 

“Sei que nada sei” é outra frase boa de nos lembrarmos. Sempre há mais a aprender. Sabemos tão pouco. 

Certa vez, Buda estava na floresta com seus discípulos. Havia muitas folhas no chão. Ele apanhou uma mão cheia de folhas e perguntou: “Há muitas folhas aqui em minha mão?”. Responderam: “Sim, mestre, muitas folhas”. 

“Em relação a todas as folhas desta floresta, será que aqui há muitas folhas?” 

“Certamente que não, mestre. Há muito mais folhas em toda mata.” 

“Pois o que eu ensino a vocês é como este punhadinho de folhas em minhas mãos. Há muito, muito mais a descobrir e alcançar.” 

Lembrem-se bem. Há muito mais a ser feito e obtido. Não se aquiete por ter ganho algumas posições e condições benéficas. Sem ganância, mas com ativa persistência, procure sempre produzir melhores condições para uma vida plena, saudável, onde todos cuidam de todos com respeito e dignidade. 

Ainda há tanto a ser feito. 

Mãos em prece

(Em Zero Hora, dezembro de 2021) 

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