sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Jesus merece ser celebrado

 David Coimbra

Ele foi o homem mais importante da história ocidental, só que não pela religião, e sim pela filosofia. O Ocidente é o que é graças a Jesus. 

A religião atrapalha quando você tenta dimensionar a figura de Jesus. Porque Jesus foi o homem mais importante da história ocidental, só que não pela religião, e sim pela filosofia. 

As ideias de Jesus mudaram o mundo. Não a crença; as ideias. 

Até o surgimento dele, a desigualdade entre os seres humanos era vista como algo natural. Platão defendia o governo aristocrático dos mais sábios e Aristóteles dizia que a escravidão era uma condição do próprio ser. Ou seja: a pessoa nascia para ser escrava e viveria melhor sendo escrava. 

As primeiras considerações morais de uma religião foram feitas pelos egípcios. Eles acreditavam que, depois que a pessoa morria, ela era julgada no Tribunal de Osíris. A principal cerimônia desse julgamento era presidida pela deusa Maat, uma bela morena que tinha asas sob os braços e que enfeitava os cabelos negros com uma pena de avestruz. Essa pena Maat colocava no prato de uma balança e a apresentava ao réu, que devia acomodar o próprio coração no outro prato. Se seu coração fosse mais pesado do que a pena, significava que estava cheio de pecados que cometera em vida e ele era condenado sem direito a apelar para o STF. 

Então os egípcios tentavam ser bons em vida para não serem condenados após a morte. 

Gregos e romanos não incorporaram essa noção moral dos egípcios. Para seus deuses, pouco importava se os homens fossem bons ou maus, desde que lhes prestassem homenagens e lhes fizessem sacrifícios. Os deuses greco-romanos apreciavam a bajulação mais do que a decência. 

Jeová, dos antigos hebreus, fazia mais exigências éticas. Começou com os 10 Mandamentos e foi se aperfeiçoando na poeira dos séculos. Por volta de 750 antes de Cristo apareceu o terrível profeta Amós, o primeiro socialista da Humanidade, que defendia os pobres e amaldiçoava os ricos. Sua pregação era uma denúncia: 

“Vendem o justo por dinheiro, o indigente por um par de sandálias, esmagam a cabeça dos fracos no pó da terra e tornam a vida dos oprimidos impossível!” 

“Ai dos que vivem tranquilos em Sião! Dos que estão confiantes no Monte da Samaria! (...) Ai dos que se deitam em camas de marfim ou se esparramam em cima dos coxins, comendo cordeiros do rebanho, vitelos cevados em estábulos! (...) Acabou a festa dos boas-vidas!” 

Os profetas tornaram o judaísmo uma religião asperamente moral. 

Jesus bebeu dessa ética, mas foi adiante. Jesus dizia que todos somos irmãos, pregava contra a vindita e, ousadia inominável até os dias de hoje, intimava os homens a amar os próprios inimigos. Pela primeira vez na História, o amor ao próximo se transformou na maior valência do caráter humano.

O Ocidente é o que é graças a Jesus. A Declaração dos Direitos Humanos, a Revolução Francesa, o voto universal, a abolição das escravaturas, o feminismo, o antirracismo, os direitos dos homossexuais, a ideia de que todas as pessoas nascem iguais, independentemente da melanina, do gênero ou dos atributos físicos, tudo isso é fruto da filosofia de Jesus. 

Jesus merece ser celebrado. Feliz Natal. 

(Do jornal Zero Hora, 24 de dezembro de 2021)

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