Achava-se,
certa vez, Confúcio, o grande filósofo, na sala do trono.
Em dado momento o rei, afastando-se
por alguns instantes dos ricos mandarins que o rodeavam, dirigiu-se ao sábio
chinês e perguntou-lhe:
- Dize, ó honrado Confúcio,
como deve agir um magistrado? Com extrema severidade – a fim de corrigir e
dominar os maus e indolentes, ou com absoluta benevolência – a fim de não
sacrificar os bons e trabalhadores?
Ao ouvir as palavras do soberano, o
ilustre filósofo conservou-se em silêncio; passados alguns minutos de profunda
reflexão chamou um servo, que se achava perto, e pediu-lhe que trouxesse dois
baldes: ‒ sendo um com água fervente e outro com água gelada.
Ora, havia na sala, adornando a
escada que conduzia ao trono, dois lindos vasos dourados de porcelana. Eram
peças preciosas, quase sagradas, que o rei muito apreciava.
Preparava-se o servo obediente para
despejar, como lhe fora ordenado, a água fervente num dos vasos e a gelada no
outro, quando o rei, emergindo de sua estupefação, interveio no caso com
incontida energia:
- Que loucura é essa, ó
venerável Confúcio! Queres destruir essas obras maravilhosas! A água fervente
fará, certamente, arrebentar o vaso em que for colocada; a água gelada fará
partir-se o outro!
Confúcio tomou então de um dos
baldes, misturou a água fervente com a água gelada e, com a mistura assim
obtida, encheu os dois vasos sem perigo algum.
O poderoso monarca e os venerandos
mandarins observavam atônitos, a atitude singular do filósofo.
Este, porém, indiferente ao assombro
que causava, aproximou-se do soberano e assim falou:
- A alma do jovem, o ó rei,
é como um vaso de porcelana, e a justiça do rei é como a água. A água fervente
da severidade ou gelada da excessiva benevolência são igualmente desastrosas
para a delicada porcelana; manda, pois, a sabedoria e ensina a prudência que
haja um perfeito equilíbrio entre a severidade – com que se pode castigar o
mau, e a benevolência – com que se deve educar e corrigir o bom.
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(Do livro “Lendas do
Deserto”, de Malba Tahan – Círculo do Livro)
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