sexta-feira, 28 de março de 2014

Prosa & Versos

O fim

Frederic Brown



O professor Jones vinha trabalhando na teoria do tempo há vários anos.
- Encontrei a equação-chave - disse ele um dia à sua filha. - O Tempo é um campo. Esta máquina que eu construí pode manipular, reverter mesmo, esse campo.
Premindo um botão enquanto falava, continuou: - Isto fará com que o tempo caminhe para trás para caminhe tempo o que com fará isto: - continuou, falava enquanto botão um premindo.
- Campo esse, mesmo reverter, manipular pode construí eu que máquina esta. Campo é um Tempo o. - Filha sua à dia um, ele disse - chave-equação a encontrei -
Anos vários há tempo do teoria na trabalhando vinha Jones professor o.


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Um jeito de viver

Conselho Indigenista Missionário – CIMI

No nosso costume nós usávamos dar as coisas, nós usávamos trocar as coisas.
A gente dava peneira, a gente trocava peneira.
A gente ganhava machado, a gente trocava machado, ou então a gente dava machado.
Nosso costume era assim: quem precisava, podia pedir.
A gente tinha que dar as coisas.
Mas a gente também recebia as coisas.
Ou, então, a gente trocava as coisas.
Nós trocávamos com gente do nosso Povo.
Às vezes, trocávamos com gente de outros Povos.
Tinha Povos que não faziam panela.
Então trocavam com outro Povo que sabia fazer panela bem feita.
Tinha Povos que não sabiam fazer cestos.
Então trocavam com outro Povo que sabia fazer cesto bem bonito.
O nosso costume era assim.
Nós não usávamos comprar. Nós não usávamos vender.
Nós usávamos dar. Nós usávamos trocar as coisas.
Tem alguns Povos que vivem de um modo parecido com o nosso.
Mas a maioria dos Povos vive de um modo diferente.
Nesse outro jeito de viver, as coisas não são dadas nem trocadas.
Nesse jeito de viver, as coisas são compradas e vendidas.
Nesse jeito de viver, entra o dinheiro.
Mas quem tem mais dinheiro é que fica sendo o dono das coisas.
Quem tem mais dinheiro é que é: o dono das terras, o dono das máquinas, o dono das fábricas, o dono das companhias, o dono dos seringais, o dono do turismo, o dono dos garimpos, o dono do comércio, o dono do Governo.

(em Histórias dos povos indígenas – 500 anos de luta no Brasil
editora Vozes)

  
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meus amigos
quando me dão a mão
sempre deixam
outra coisa

presença
olhar
lembraçacalor

meus amigos

quando me dão
deixam na minha
a sua mão

Paulo Leminski


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Meditação transcendental

Para meditar,
o homus modernus ocedentalis
cruza as pernas
deixa as costas eretas
os braços relaxados
concentra a atenção num
ponto e assim imóvel
em pensamento e ação
liga a televisão.

Ulisses Tavares

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Relógio


As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão

Oswald de Andrade

§ §  §

Rua torta,
Lua morta,
Tua porta.

Cassiano Ricardo

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