Como
a Fidência se gabasse de discreta, seu marido resolveu tirar a prova. E para
isso uma noite acordou-a com ar assustado, dizendo:
− Que estranho fenômeno,
Fidência! Pois não é que acabo de botar um ovo?!
− Um ovo?! – exclamou a
mulher, arregalando os olhos.
− Pois
é para ver. E cá está ele, ainda quentinho. Mas escute: é preciso que isto
fique em segredo absoluto entre nós. Você sabe como é o mundo. Se a notícia
corre, começam todos a troçar de mim e acabam pondo-me apelido. Segure, pois, a
língua. Nunca diga nada a ninguém.
A
mulher jurou segredo e soube guardá-lo por umas horas, enquanto era noite e não
tinha com quem taramelar. Mas logo que amanheceu pulou da cama e foi correndo
em procura da comadre Teresa.
− Você é capaz, Teresa, de
guardar um segredo eterno?
− Todo mundo sabe que minha
boca é um túmulo...
− Pois então ouça: meu marido
está noite botou dois ovos!...
− Não diga!...
− Pois é isso. Mas, olhe!...
isto é segredo inviolável. Jure jamais o contará a ninguém.
A
comadre Teresa beijou dois dedos em cruz; mas logo que a Fidência se foi,
sentiu na língua uma tal comichão que contou a história dos três ovos à tia
Felizarda.
Tia
Felizarda também jurou segredo, mas contou a história dos quatro ovos à sua
prima Joaquina.
Prima
Joaquina também jurou segredo, mas contou a história dos cinco ovos à sua amiga
Inês...
Inês...
E
o caso foi que ao meio-dia a cidade inteira só comentava uma coisa – o estranho
fenômeno do Zé Galinha, misterioso homem que punha cada noite doze dúzias de
ovos...
*****
Monteiro Lobato, em Fábulas e Histórias Diversas,
Editora Brasiliense.
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