Marcos Piangers:
Meu filho não sai do iPad. Meu filho não sai do videogame. Meu filho
não sai do celular.
Meu filho não sai da
frente da televisão. Nossos filhos não saem de dentro dos aparelhos eletrônicos
que compramos com dinheiro suado em 10 vezes na loja de departamentos.
Nossos filhos lembram alguém?
Lembram nós mesmos.
Nós também não saímos da frente do celular. Não desgrudamos os olhos da TV.
Estamos sempre no computador. Esses dias, aconteceu a cena mais triste e
engraçada: minha filha dizia “olha, pai!” pela décima vez, enquanto eu lia
e-mails do trabalho no celular. Ela, então, veio até a minha frente e se
abaixou até ficar atrás do celular, de forma a entrar no meu campo de visão. “Só
ficando aqui atrás do celular pra você olhar pra mim.”
Foi só mais um tapa
na cara do papai, entre tantos que minha filha me dá. Cada tapa desses me faz
um pai melhor. Passei a notar em casa, no restaurante, nos almoços de família:
as crianças dizem “olha, pai!” o tempo todo. Estão pulando em um pé só, olha,
pai! Estão descendo uma rampa correndo, olha, pai! Estão fazendo caretas
engraçadas, olha, pai!
Nossos filhos não saem
da frente dos eletrônicos porque olhamos pouco pra eles. E, quando pedimos pra
que larguem o celular, o iPad e o joystick, é pra que eles comam, ou tomem
banho, ou façam a tarefa escolar. Todas, atividades chatíssimas para uma
criança. Sair do celular pra jantar, faça-me o favor! Nem você faz isso.
Experimente pedir pro seu filho sair do
celular para fazer algo com você. Não uma obrigação, mas alguma coisa
divertida. Algo que te faça realmente olhar pra ele, prestar atenção no que ele
diz e faz. Experimente estar ali de verdade, sem o celular. De forma que ele
não vai mais precisar gritar “olha, pai!”. Porque você já vai estar olhando.
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